Actualmente não há maior chamada de atenção do que ameaçar sair do Facebook e voltar passado cinco minutos. Se fosse uma criança chamava-se birra.
Exceptuando quem o faz pela educação recebida, nunca compreendi aqueles que tratam por você dependendo da circunstância. Ou mais estranho ainda, os que passam do tu para você no trato com os outros, para demonstrar que nesse momento precisam de impor distância. Se fossem bem sucedidos na distância, se o desejassem realmente, não seria uma mera designação a fazer diferença. Fica antes explícito que fizeram uma chamada de atenção intencional, pois não há nada que retenha mais a nossa atenção do que o trato que os outros nos reservam. Não sei se vocês compreendem-me.
No intervalo do jogo o meu carro era o único a circular no Largo do Camões.
Tenho o coração remendado a fita-cola.
A calúnia, a mentira e a traição podem custar muito ao atingido, mas depois da fama sem proveito só uma coisa o salva e apazigua da injustiça sentida – praticar os actos sem retaliação aproveitando a condenação prévia. Afinal não é possível ser condenado duas vezes pelo mesmo crime.
1966
Não sei o que é melhor, se o texto ou os comentários.
(...) Será que no estrangeiro se opina sobre uma possível invasão espanhola caso e Espanha perca com Portugal? Ou que o D. Duarte reclame o trono espanhol se ganharmos, baseado nos acontecimentos de 1383/5?
Isto é um jornal sério?!, Zesx, 28.06.2010, 23:06
2010
Para que a telenovela cative o maior número de espectadores a trama inicia com o envio frenético de mensagens do protagonista em todas as direcções. Estilo roleta-russa. Confesso que neste capítulo inspirei-me no título de mais um livro de Dostoiévski - O Jogador. O problema agora consiste em dar o balancé, a cadência perfeita para que o espectador não mude para a Quadratura do Círculo. Assim que conseguir transformar mensagens do Facebook e telemóvel num diálogo estimulante mas ainda assim medíocre, tenho a certeza que escreverei os outros capítulos de uma assentada. Ideias não me faltam. As linhas mestras estão decididas: o funeral será convocado por chat, as relações amorosas finarão todas por post-it, aos falsos amigos espera-lhes a glória no cabeleireiro do bairro.
Eavesdrop on almost any conversation in real life and there’s a lot going on. Close your eyes and it will become obvious that someone is leading and someone is following; on person gets to change the subject and the other one happily follows. One person may be listening while the other hardly hears what the other says. Even if they’re discussing something neutral such as where to meet, someone gets the final veto. Conversations are like a seesaw – and it’s very unusual for it to be pitching back and forth in smooth harmony. Whenever people talk – about anything at all – they are revealing something deeper about how they respond to each other.
Like two pieces of the gallows, we share a common dream.
Estamos convictos que estamos sozinhos no mundo com a nossa raquete. Até tropeçarmos num post e descobrirmos que afinal somos muitos.
Foi uma conjugação de coisas. A conversa sobre as scuts, os dois de óculos escuros na marginal a caminho da praia. Eu a perceber a extensão do negócio do ex-assessor. O quê? Também tenho de comprar o aparelho? Mas eu não vivo no Norte! O gajo é um génio. Depois foi a entrevista ao Alfredo Casimiro na Pública onde relata todo o caminho percorrido até descobrir aos trinta anos que era milionário. Ao fim do dia, vínhamos nós na fila morna em direcção à capital, tive uma epifania enquanto olhava para o segundo acidente. O meu caminho não está na literatura, não passa por escrever para a gaveta, ter fome e correr o risco de viver debaixo da ponte. Eu quero ser rico, bem sucedido, condecorações do presidente e essas tretas todas, um vulto na cultura, que os gajos que me bateram na escola primária vomitem de inveja. Acho que estão a perceber a ideia. Para isso é necessário encontrar a minha própria scut. O mais complicado por vezes é ter a ideia, uma vez definida, o objectivo parece de uma simplicidade atroz. Nem sei como é que nunca me tinha ocorrido isto. Vou dedicar-me às telenovelas e conquistar o meu quinhão. Ao chegar à cidade já tinha engendrado o primeiro esboço do argumento. A personagem principal é o anti-herói por excelência. Terá doses cavalares de falta de sexo, diálogos de chorar por menos, facadas dos amigos a torto e a direito, amores platónicos degradantes, medicação assistida e uma previsibilidade em todo o argumento do início ao fim que não deixará o espectador indiferente. Conto matar a personagem principal a meio da telenovela, com direito a um funeral rasca e poucos choros. A forma como vou continuar a saga sem o palhaço é o twist perfeito para que ninguém se esqueça da minha obra. Estou a pensar roubar o nome O Idiota ao Dostoiévski – é curto e fácil de lembrar, afinal idiotas há muitos e é raro não conhecermos um ou dois, senão muitos. Primeiro capítulo em preparação.
E logo directamente para um palco. Parece que há quem acredite* neste escriba, e ainda bem que da minha parte é só dúvidas. Fui convidado a sair do armário e a trocar o teclado por um microfone. Como sou um inconsciente disse que sim. No próximo sábado, dia 3 de Julho, vou estar no Speakers' Corner no Estoril FashionArt Festival. A dúvida agora é perceber se tenho gravata para isto.
* Com um agradecimento especial à Rita Rolex.
Quase, quase lua cheia.
Pensei que se não escrevesse haveria de te esquecer mas ainda foi pior.
Aprendi há muitos anos que a regra de ouro quando trabalhamos com pessoas ou em situações que não confiamos é tratar todo o processo por escrito. Aprendi agora que nas relações de amor e amizade nunca se deve comunicar sem ser nos olhos.
Bem-vinda Miúda no Deserto.
Com as férias respira-se melhor nesta latrina.
À meia-noite em ponto Lisboa estava cheia de pessoas a passear na rua.
Chegou ontem. Tive de ler várias vezes o destinatário. Um Homem na Cidade. A minha primeira carta e logo com um convite para um jantar. Ao abrir o envelope rasguei o véu entre a realidade e a ficção.
Às 15h10 a bomba de gasolina de Oeiras estava deserta.
a minha língua é a pátria portuguesa
coisas extraordinárias do gabinete
grandes crimes sem consequência
pequenas ficções sem consequência
LEITURAS
Agora e na hora da nossa morte - Susana Moreira Marques
Caixa para pensar – Manuel Carmo
Night train to Lisbon – Pascal Mercier
CIDADES