Já destruíram de forma inequívoca o coração no passado, não há dúvida quanto a isso. As histórias que contaram um ao outro comprovam-no. Uns enganos com custos pesados para a armadura sentimental. Erros, más escolhas. Já confessaram mutuamente estarem com o coração aos pulos mas os calafrios mantêm-se. Fazem tudo o que a prudência desaconselha. Se não dormem juntos uma noite é um drama, contam aos quatro ventos que estão apaixonados, apresentam amigos, mudam para um tarifário que os permite falar à borla a todas as horas do dia, apanham aviões, desaparecem. Um diz mata, o outro diz esfola. Se corre mal já sabem o desfecho, não há cura.
O ano que cataloguei como horribilis II (sim, já houve outro antes e foi tão mau que por comparação este até foi doce) está a finar e ainda bem. Nunca vi um ano com tanta bullshit. Apre.
O que me salva são as viagens no eléctrico. Esta tarde ao tornear as colinas em profunda melancolia pegajosa e na tentativa falhada de chegar a uma decisão, uma ideia surgiu – pedir uma cidade emprestada para conquistar novas perspectivas. Este blog vai trocar Lisboa por Roma e iniciar o ano novo a brindar com os romanos.
O sistema anti-fedelhos das máquinas de tabaco.
Uma vez ouvi alguém dizer com pesar que lamentava aqueles que passaram pela vida académica sem nunca conhecer um bom professor. Hoje é a minha vez de lamentar aqueles que passa(ra)m pela vida sem nunca viver um grande amor.
Ando a viver a mais e a escrever a menos.
Depois de uns dias fora, volto e encontro a casa chateada. Não gosta de ser votada ao silêncio, dá-se mal com a ausência do dono, recusa-se a ouvir as minhas desculpas. Faço-lhe cócegas nos interruptores, danço desengonçado no corredor, dou-lhe palmadinhas no estuque. Nada. A casa está chateada, não se comove por truques circenses baratos.
Dizes-me que ainda estamos a escrever o nosso mapa e eu concordo. Por ti já quebrei uma série de regras quando me atirei de cabeça sem qualquer direcção.
Relógios, guarda-chuvas e frutas cristalizadas
Garanto que sou muito melhor pessoa no Verão.
Na mesma semana duas boas notícias – o lançamento da revista de contos Antologia e a abertura do concurso de bolsas de criação/investigação literária do Centro Nacional de Cultura.
Fazias-me falta e eu não sabia.
É certo que ele esteve presente; mas não trouxe com ele palavras solenes, nem rostos alegres, nem augúrio feliz.
Metamorfoses, Ovídio
Perguntam-me se já me enganei «completamente» acerca de alguém. Tento encontrar uma resposta. Tive algumas grandes decepções, é verdade. E sempre com pessoas competitivas, cínicas e agressivas. Mas nunca ignorei que fossem competitivas, cínicas e agressivas; não estava completamente enganado. Achei foi que essas pessoas não seriam competitivas, cínicas e agressivas comigo. Não me enganei acerca da natureza delas, enganei-me acerca da natureza. Pedro Mexia, aqui.
a minha língua é a pátria portuguesa
coisas extraordinárias do gabinete
grandes crimes sem consequência
pequenas ficções sem consequência
LEITURAS
Agora e na hora da nossa morte - Susana Moreira Marques
Caixa para pensar – Manuel Carmo
Night train to Lisbon – Pascal Mercier
CIDADES