Domingo, 4 de Novembro de 2012
Emprego e desemprego do poeta

 

Deixai que em suas mãos cresça o poema 
como o som do avião no céu sem nuvens 
ou no surdo verão as manhãs de domingo 
Não lhe digais que é mão-de-obra a mais 
que o tempo não está para a poesia 

Publicar versos em jornais que tiram milhares 
talvez até alguns milhões de exemplares 
haverá coisa que se lhe compare? 
Grandes mulheres como semiramis 
públia hortênsia de castro ou vitória colonna 
todas aquelas que mais íntimo morreram 
não fizeram tanto por se imortalizar 

Oh que agradável não é ver um poeta em exercício 
chegar mesmo a fazer versos a pedido 
versos que ao lê-los o mais arguto crítico em vão procuraria 
quem evitasse a guerra maiúsculas-minúsculas melhor 
Bem mais do que a harmonia entre os irmãos 
o poeta em exercício é como azeite precioso derramado 
na cabeça e na barba de aarão 

Chorai profissionais da caridade 
pelo pobre poeta aposentado 
que já nem sabe onde ir buscar os versos 
Abandonado pela poesia 
oh como são compridos para ele os dias 
nem mesmo sabe aonde pôr as mãos 
Ruy Belo


publicado por afonso ferreira às 10:24 | link do post

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