Terça-feira, 10.04.12

O carro a rolar pela baixa, noite, semáforos, pessoas.

 

Eu – Depois de passarmos uma noite com os sem-abrigo nunca mais olhamos para a situação da mesma forma.

Ele – ...

Eu – Olha a lua, incrível.

Ele – E o dinheiro que empataram no TGV? Nunca mais vai ser recuperado.

Eu – ...



publicado por afonso ferreira às 14:16 | link do post | comentar | ver comentários (3)

Segunda-feira, 04.10.10

Ao jantar.

Homem 1 – Mas, então não concordas que certos actos devem ser punidos?

Homem 2 – Desagrada-me a ideia de vingança. Quando retalias da mesma forma tornas-te igual a eles.

Homem 1 – Mas a vingança também pode ser uma forma de justiça. Poderá ser uma forma de evitar que o mesmo crime aconteça outra vez.

Homem 2 – Prefiro acreditar que não há nada que não tenha o seu castigo merecido, mais cedo ou mais tarde.

Homem 1 – Mas deus não existe. E se no fim houvesse sempre um castigo, não estaríamos a ter esta conversa. Este diálogo prova que a maior parte das vezes não há castigo nenhum. Esse é que é o problema.

Homem 2 – Mas existe a tua consciência. A vingança nunca é solução.

Homem 1 – Sendo assim, estás à mercê de qualquer pessoa ou situação. Se alguém prejudicar ou insultar não será punido. Se isto acontecer a ti, e se não for um caso de polícia ou tribunal, a tua única resposta será não responder?

Homem 2 – Depende do caso...

Homem 1 – Se fores insultado publicamente, sem razão nenhuma, por exemplo? Não dirás nada?

Homem 2 – Já aconteceu. E reagi, mas não considero isso uma vingança.

Homem 1 – Se reagiste estás a dar-me razão. Embora eu não dê a mesma conotação negativa à palavra vingança. A vingança poderá servir para aplicar a justiça nalguns casos. Será a forma de reacção que define a justeza de resposta.

Homem 2 – Naquele caso acho justo ter enviado os homens.

Homem 1 – Os homens?

Homem 2 – Sim. Angolanos.

Homem 1 – ... ?

Homem 2 – São bastante eficazes e discretos. Nunca mais tive chatices. Se tiveres algum problema dou-te o número.

Homem 1 – Mas eu não acredito na violência.

Homem 2 – Olha que às vezes uma coça resolve muita coisa. É limpinho. Tens é de contratar os gajos certos.

Homem 1 – ...



publicado por afonso ferreira às 14:08 | link do post | comentar | ver comentários (1)

Quarta-feira, 09.06.10

 

 

 

De manhã, com a chuva a cair na janela.

 

Ele - Pensas que temos futuro?

Ela - Como individuos, ou juntos?

Ele - Nós, os dois.

Ela - Provavelmente não.

Ele - Parece-te que é uma questão de estatística?

Ela - Não, de volatilidade.

Ele - E se casássemos?

Ela - Com quem?

Ele - Um com o outro.

Ela - Não acredito no casamento. 

Ele - E se fosses gay?

Ela - Só se fosse para protagonizar o primeiro divórcio no país.

Ele - Amo-te.

Ela - Não digas isso.

Ele - Achas simplista?

Ela - Demasiado complexo.

Ele - Queres casar comigo?

Ela - A última vez que decidi casar descobri que ele era um nabo.

Ele - Começo a acreditar no futuro.

Ela - E se nos cingíssemos ao sexo e à literatura?



publicado por afonso ferreira às 01:55 | link do post | comentar | ver comentários (2)

Quarta-feira, 24.02.10

Na esquadra à conversa com o polícia.

 

Polícia - A sua fotografia da carta de condução está radicalmente diferente da do cartão de cidadão.

Eu - É o penteado. A fotografia já tem alguns anos.

Polícia - Não é só isso, o rosto também. Só os olhos estão iguais.

Eu - É grave?

Polícia - Não se preocupe não o vou multar.

Eu - Por causa do meu aspecto ou porque não tenho a morada igual nos dois documentos?

 



publicado por afonso ferreira às 18:01 | link do post | comentar

Sexta-feira, 19.02.10

 

Marcos Perestrello – O teu superior hierárquico [Rui Pedro Soares] foi para Barcelona ou Milão...
Paulo Penedos – Não, está no Algarve. Não foi para um sítio, nem para outro.
MP – Mas depois vai, acho eu.
PP – Vai para Milão, segunda-feira. Vai-se lá encontrar com o Figo, para com ele celebrar uma coisa um bocado pornográfica, mas pronto.
MP – Que é o quê?
PP – Eh pá … só te posso dizer se tu não disseres a ninguém. Se disseres, não te posso dizer.
MP – Se quiseres dizer, dizes! Se disseres que não é para dizer a ninguém eu não digo.
PP – Não, não digas que é uma coisa… Ele há dias disse-me, muito contente, que tinha conseguido que o Figo apoiasse o Sócrates e eu disse ‘boa e tal’, claro que é importante. E hoje ligou-me a pedir que eu lhe fizesse um contrato de patrocínio para a Fundação Luís Figo, à razão de 250 mil euros por ano.
MP – Pois, imagino…
PP – Ah?
MP – Claro, claro. E isso, aliás, vale muitos votos! Essa merda em subsídios de desemprego…
PP – Ah?
MP – Isso em subsídios de desemprego…
PP – Eh pá, mas ouve-me… O gajo conhece toda a gente e mais alguma e toda a gente em que ele tropeça, do mundo da bola, de repente estão a apoiar o PS e o Sócrates, mas depois todos têm por detrás contratos…  todos têm contratos… Até deve ser alvo de alguma risota, não é.
MP – Por acaso não me deram o nome do Figo para os tempos de antena das personalidades para depor!
PP – Pronto, faz-te de novas que o nome vai-te aparecer, só que o apoiante espontâneo e fervoroso primeiro deve querer assinar o contrato, não é?
MP – Sim, sim, vamos ver se depois aparece, se é como outros que eu cá sei que acham que é melhor não darem a cara. Acham que é melhor não darem a cara, abrem uma coisa ali, outra ali.
PP – Exactamente …
MP – Ai..., não aprenderam nada ainda.

Sol revela as conversas mantidas entre Marcos Perestrello, membro do Secretariado do PS e actual secretário de Estado da Defesa, e Paulo Penedos, membro da Comissão Nacional do PS e advogado na PT, exercendo funções na dependência do administrador executivo Rui Pedro Soares, sobre o apoio de Luís Figo à candidatura de José Sócrates aqui.

 



publicado por afonso ferreira às 10:55 | link do post | comentar | ver comentários (1)

Sexta-feira, 12.02.10

 

No balcão dos CTT a despachar umas cartas e à conversa com o funcionário.

Ele: Então, não quer aproveitar para levar uma prenda para o Dia de São Valentim?

Eu: Nem pensar, abomino esse dia.

Ele: Não me diga. É apenas um pretexto para trocar prendas...

Eu: Precisamente, é o consumismo associado à data que não gosto.

Ele: O Dia de São Valentim é quando o homem quiser.

Eu: Que horror.

Ele: Tenho a certeza que gosta de receber prendas... E se lhe oferecesse um Mercedes?

Eu: Hum, não, não me convence. Só se fosse um BMW.

Ele: Vê? Eu tinha razão. Não há ninguém que não goste de prendas.



publicado por afonso ferreira às 01:28 | link do post | comentar | ver comentários (2)

Quinta-feira, 04.02.10

 

No restaurante japonês junto ao rio. A chover.

 

Ele: Não percebo como é que duas pessoas como nós, tão parecidas, estão sozinhas, não estão juntas.

Ela: Não consigo voltar atrás. Tenho realmente de sentir.

Ele: Vamos dar o último beijo?

Ela: Enviei-te uma carta enorme e respondeste-me com duas linhas...

Ele: Eu estava em viagem...

Ela: Quando partir achas que é possível continuar as consultas com o psiquiatra pela internet?

Ele: É mesmo o último beijo.

Ela: já decidi que quando for embora vou só levar uma mochila pequena e o portátil. Vou deixar tudo para trás.

Ele: Fazes bem.

Ela: A mochila ou o psiquiatra?



publicado por afonso ferreira às 22:49 | link do post | comentar

Quinta-feira, 28.01.10

 

Domingo. O carro a deslizar pela marginal. Trânsito e gaivotas.

Ela - Queres casar comigo?

Ele - Humpf...

Ela - Não queres?...

Ele - Quero. Mas só quando me perguntares um vez só. Quando perguntares a sério.

Ela - Mas é um pedido sério...

Ele - ...

Ela - Eu peço-te em casamento todos os dias mas nunca tinha pedido ninguém...

Ele - ....

Ela - A sério.

Ele - Todos os dias não vale.

Ela - ... 

Ele - Só aceito quando perguntares uma vez, quando for verdade.

Ela - Queres casar comigo?

Ele - ...

 

 

 



publicado por afonso ferreira às 21:00 | link do post | comentar

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