Correu bem. Embora falar para uma plateia não seja propriamente o que mais goste. Ao sair de cena, levei com um microfone e uma câmara em cima. Uns dias depois, ainda pálido do esforço, outra maratona para testar a minha elasticidade psicológica. Uma sessão de fotos, daquelas de fazer pose, endireitar as costas e colocar a mão num ângulo estranho. Completamente zonzo dei uma entrevista de duas horas em que não recordo nada do que disse. Há dias estamparam-me numa revista, eu sentadinho numa cadeira como se fizesse aquilo todos os dias, e agora é a vez de passar em loop na televisão umas incoerências que disse quando não estava no pleno das minhas faculdades. Graças a deus, algumas vezes passa a horas estranhas. Esta noite passou às três e meia da manhã, não que estivesse acordado para tal evento, sei porque a caixa de mensagens do meu telemóvel está cheia e pelo menos metade fazem questão de dizer as horas em que me viram a fazer tristes figuras. E isto a propósito da constatação, uma vez mais, de que não fui feito para isto, não podemos ir contra a nossa natureza. A Agustina é que tem razão, o sucesso é menos importante que um vestido bonito.
a minha língua é a pátria portuguesa
coisas extraordinárias do gabinete
grandes crimes sem consequência
pequenas ficções sem consequência
LEITURAS
Agora e na hora da nossa morte - Susana Moreira Marques
Caixa para pensar – Manuel Carmo
Night train to Lisbon – Pascal Mercier
CIDADES