De um dia para o outro, sem mais nem menos. Um dia estava tudo bem, no outro todos os planos caíram por terra. Eu sei que estamos longe, tantos países pelo meio, as notícias chegam por chat mas a solenidade da mensagem merecia um telefonema, como recordo na minha infância, com cortes e chamadas a cair, ruído de fundo, gritos para que do outro lado ouvissem umas palavras sussurradas, tal era a distância. Mas não, soube por linhas mecânicas perfeitamente alinhadas sem condescendência à gravidade do assunto. Por osmose e solidariedade mostro a minha raiva, também eu já me cruzei com esse tipo de pessoas. Excelentes a criar expectativas e melhores ainda a destruí-las. A nossa capacidade de compreensão é sempre proporcional à quantidade de vezes que nos queimámos. Apetece-me ir furar pneus de madrugada, não que resolva alguma coisa, mas estou farto da lentidão do mundo e de receber mensagens destas. Apetece trocar o consolo por acção. Talvez opte por um spray, sempre requer menos esforço físico.
a minha língua é a pátria portuguesa
coisas extraordinárias do gabinete
grandes crimes sem consequência
pequenas ficções sem consequência
LEITURAS
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Caixa para pensar – Manuel Carmo
Night train to Lisbon – Pascal Mercier
CIDADES