Por estes dias os céus tingem-se de cinzento, de fagulhas, de cheiro. Por estes dias, todos os anos o mesmo sacrifício, as narinas a arder, os olhos mudos, o espectáculo do mundo em directo a queimar a pele em lume brando. Por estes dias surge a lembrança de outro verão, tão longe e ainda assim aqui, à mão de semear, onde assistimos ao país a arder, nós tão longe a descodificar a desgraça em televisões estrangeiras, com rodapés enigmáticos, e o que ouvíamos eram as gentes das terras a carpir. Por estes dias passamos a noite a ver a nuvem de fumo sobre a cidade a resfolegar, a relembrar o carro a passar por entre as chamas na auto-estrada, o norte a arder, a montanha iluminada de noite, a coluna de fumo sobre o mar e nós tão pequenos.
a minha língua é a pátria portuguesa
coisas extraordinárias do gabinete
grandes crimes sem consequência
pequenas ficções sem consequência
LEITURAS
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Caixa para pensar – Manuel Carmo
Night train to Lisbon – Pascal Mercier
CIDADES