A minha viagem à Ilha do Sal começa no sul num domingo que deveria ser sereno mas acordo com a cabeça prestes a explodir. No sul o céu está encoberto e eu sinto uma faca espetada na cabeça, bichos alados no estômago e um sono que me invade. Ainda assim vou à vila, atravesso a ria, vejo o mar. Um domingo fosco, a neblina que sinto contaminou tudo. Na ponte tiramos fotografias, faço-te a vontade, não te digo que as imagens serão em vão, apetece-me ter faróis de nevoeiro no corpo. No regresso à capital o kilómetro 207 revela-se fatal. O quatro rodas recusa-se a prosseguir. Chamamos o reboque e depois de alguma espera e peripécias várias chegamos à cidade. Por esta altura juntou-se a febre ao festim dos outros sintomas. O meu companheiro de viagem aposta numas ostras partilhadas com vista para a ria como causa para tanto mal-estar. Eu acuso todo o mal do mundo, a crise económica e a silly season. Na realidade estou sem capacidade de análise. Com o cair da noite volto lentamente a mim, a névoa dissipa-se.
a minha língua é a pátria portuguesa
coisas extraordinárias do gabinete
grandes crimes sem consequência
pequenas ficções sem consequência
LEITURAS
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Caixa para pensar – Manuel Carmo
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CIDADES