Foi necessário um carro, um reboque, três taxis, uma viagem de comboio, outra de metro e apanhar um avião para chegar à Ilha do Sal. Quando aterro na ilha é noite adiantada. Perco-me em fusos horários. Não sei se as horas fugiram para a frente ou andaram às arrecuas. O aeroporto é pequeno e é necessário verficar vistos e passaportes. Liberto das burocracias, recolho a bagagem e atravesso o edifício. Preparo-me para ser atingido pelo cheiro lendário de África. Aquele que garantem-me que uma vez sentido é impossível esquecer. O cheiro das saudades de muitos, tantas e tantas vezes descrito aos meus ouvidos atentos. Exterior do aeroporto, inspiro profundamente, fecho os olhos. Outra vez. Tento descodificar a profundidade do que cheiro. Nada. Absolutamente nada. A Ilha do Sal não cheira a coisa nenhuma.
a minha língua é a pátria portuguesa
coisas extraordinárias do gabinete
grandes crimes sem consequência
pequenas ficções sem consequência
LEITURAS
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Caixa para pensar – Manuel Carmo
Night train to Lisbon – Pascal Mercier
CIDADES