Acordei sobressaltado com o telefone a tocar. Atendi a tua chamada a disfarçar a insónia que assaltou a noite e só deu tréguas ao amanhecer. Estavas contente, a voz firme, a perderes-te em pormenores, quem te ouvisse não desconfiava que carregas a doença às costas. Desfilavas eventos e histórias e eu fingia estar desperto quando os sonhos ainda cavalgavam sobre a realidade. O ouvido aberto, os olhos fechados, o corpo adormecido. Estavas tão contente, eles tinham chegado à cidade e já os tinhas encontrado. Vieram visitar-te e sentaram-se a uma mesa a partilhar conversa e comida e agora só te importas com isto, é só a isto que chamas vida, o resto que vá à merda. Tu falavas, eu ouvia, e vindo do sonho a imagem surgiu. Os dois juntos na falésia, a criança ao lado, em baixo a cidade, ao fundo o mar.
a minha língua é a pátria portuguesa
coisas extraordinárias do gabinete
grandes crimes sem consequência
pequenas ficções sem consequência
LEITURAS
Agora e na hora da nossa morte - Susana Moreira Marques
Caixa para pensar – Manuel Carmo
Night train to Lisbon – Pascal Mercier
CIDADES