Segunda-feira, 4 de Outubro de 2010

Ao jantar.

Homem 1 – Mas, então não concordas que certos actos devem ser punidos?

Homem 2 – Desagrada-me a ideia de vingança. Quando retalias da mesma forma tornas-te igual a eles.

Homem 1 – Mas a vingança também pode ser uma forma de justiça. Poderá ser uma forma de evitar que o mesmo crime aconteça outra vez.

Homem 2 – Prefiro acreditar que não há nada que não tenha o seu castigo merecido, mais cedo ou mais tarde.

Homem 1 – Mas deus não existe. E se no fim houvesse sempre um castigo, não estaríamos a ter esta conversa. Este diálogo prova que a maior parte das vezes não há castigo nenhum. Esse é que é o problema.

Homem 2 – Mas existe a tua consciência. A vingança nunca é solução.

Homem 1 – Sendo assim, estás à mercê de qualquer pessoa ou situação. Se alguém prejudicar ou insultar não será punido. Se isto acontecer a ti, e se não for um caso de polícia ou tribunal, a tua única resposta será não responder?

Homem 2 – Depende do caso...

Homem 1 – Se fores insultado publicamente, sem razão nenhuma, por exemplo? Não dirás nada?

Homem 2 – Já aconteceu. E reagi, mas não considero isso uma vingança.

Homem 1 – Se reagiste estás a dar-me razão. Embora eu não dê a mesma conotação negativa à palavra vingança. A vingança poderá servir para aplicar a justiça nalguns casos. Será a forma de reacção que define a justeza de resposta.

Homem 2 – Naquele caso acho justo ter enviado os homens.

Homem 1 – Os homens?

Homem 2 – Sim. Angolanos.

Homem 1 – ... ?

Homem 2 – São bastante eficazes e discretos. Nunca mais tive chatices. Se tiveres algum problema dou-te o número.

Homem 1 – Mas eu não acredito na violência.

Homem 2 – Olha que às vezes uma coça resolve muita coisa. É limpinho. Tens é de contratar os gajos certos.

Homem 1 – ...



publicado por afonso ferreira às 14:08 | link do post | comentar

1 comentário:
De Anónimo a 4 de Outubro de 2010 às 19:24
Comentário apagado.


De afonso ferreira a 4 de Outubro de 2010 às 20:25
Este diálogo, apesar de ser um exercício de ficção, baseia-se em factos reais. Não concordo com nenhum dos homens, mas parte de mim percebe os dois. Há uma grande confusão entre justiça e vingança, mas ainda mais confuso é entre a ideia de vingança (que é sempre condenada) e os actos praticados (sempre justificados). Para o Homem 1 coloca-se a questão das fronteiras entre justiça e vingança. O Homem 2 é peremptório, a noção de vingança será sempre condenável, no entanto se for atacado reagirá com violência extrema e não sentirá qualquer remorso pois agirá de acordo com a sua (boa) consciência. O Homem 1 nunca será capaz de uma acção desse calibre, nesse sentido não tem dúvidas quanto à fronteira ente o ético e o reprovável.


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