Um telefonema rápido que derivou numa longa conversa. Contou-me o seu dia em detalhe, com trinta anos de experiência a esticar leis na barra do tribunal, hoje o dia pediu-lhe que fosse testemunha. Um encontro fatal entre uns polícias e uma estrangeira sem papéis deram à manivela na máquina do mundo e pariram os eventos que narrou. Um dia passado entre a polícia, o tribunal, no labirinto de várias línguas e países. Jugoslávia, França, Espanha, Portugal, a viagem que foi necessária para este momento nascer. Conta-me muitas coisas, a advogada nova prepotente que foi preciso dar uns berros para acalmar; os polícias a intimidarem, a tentarem calcar o medo; a desorientação dos estrangeiros; a tempestade das traduções selvagens. Mas o que contou com mais pormenor foi a sandes. Com alface e tomate, foi desfeita e remexida até não se parecer com nada, ou não não fosse possível ir disfarçada uma arma na maionese. A sandes, simbolo máximo do absurdo labirinto em que as nossas vidas tornaram-se.
a minha língua é a pátria portuguesa
coisas extraordinárias do gabinete
grandes crimes sem consequência
pequenas ficções sem consequência
LEITURAS
Agora e na hora da nossa morte - Susana Moreira Marques
Caixa para pensar – Manuel Carmo
Night train to Lisbon – Pascal Mercier
CIDADES