A inspiração aparece nos momentos mais inesperados. Foi necessário relembrar o filme A Festa com uma dinamarquesa que fala português do Brasil, dormir apenas três horas e um fim-de-semana agitado em termos sociais para encontrar uma solução para a tão malograda telenovela. De madrugada, numa festa à pinha, tive uma pequena epifania, certamente embalado pela excitação avulsa no bar com bebidas à descrição, e recordei a noite em que fui à pior festa de natal que recordo. Um momento de convívio que deixou-me à beira de trucidar renas no caminho para casa. Felizmente, como o evento descrito decorreu no último natal recordo com vivacidade os pormenores. Parece-me perfeito como momento catalisador de tensão para captar a atenção dos espectadores. Embora seja necessário mais uma vez diminuir a idiotia de certos diálogos reais no intuito de parecerem credíveis e acrescentar mais umas características arrepiantes – o protagonista não fecha a porta da casa de banho e não corta as unhas – para disfarçar a verdadeira intenção do relato desse episódio: nunca ir a festas de natal de amigos dos amigos. Para fretes já bastam os nossos.
a minha língua é a pátria portuguesa
coisas extraordinárias do gabinete
grandes crimes sem consequência
pequenas ficções sem consequência
LEITURAS
Agora e na hora da nossa morte - Susana Moreira Marques
Caixa para pensar – Manuel Carmo
Night train to Lisbon – Pascal Mercier
CIDADES