Foi hoje o lançamento na livraria Pó dos Livros. Já li o livro, leio atentamente o blog Novo Mundo e tenho acompanhado na imprensa e nos blogs a polémica que provocou, portanto a minha ida ao lançamento justificava-se apenas pela curiosidade de conhecer e ouvir a Isabela.
Sala cheia, boa intervenção do público embora a confusão de algumas pessoas nas questões da colonização, guerra e racismo estarem (ainda) muito confusas. Não consegui evitar pensar que a plateia era constituída por pessoas que gostaram do livro e consequentemente concordam com a visão da autora, que tipo de debate poderia ter acontecido se metade discordasse? Pelas reacções violentas na blogosfera não teria sido um debate tão pacífico.
Concordasse ou não com algumas das opiniões expressas, a verdade é que não houve confrontos. E o tema do livro é polémico o suficiente para isso e muito mais.
Para além de bem escrito – Isabela escreve de uma forma crua, inteligente, irónica, com um humor subtil que raramente encontro – o livro desvenda o que era a vida na colónia e como foi vivido o processo de descolonização.
Ao vivo desapontou quem estava à espera de uma pessoa polémica ou com grandes "teorias". Isabela fala com convicção mas aparenta uma serenidade no discurso e uma segurança face à polémica. Simplesmente diz não reconhecer as opiniões dadas por anónimos nos blogs e fala dos Cadernos como uma visão pessoal que tentou cingir às memórias que guardou – partiu de Moçambique quando tinha doze anos.
Para além de ser um registo fundamental, é de salientar a enorme coragem para publicar o livro, sendo o mesmo em parte baseado na figura paterna e as suas observações sobre o racismo latente na altura serem um assunto ainda hoje tabu.
Dos Cadernos resta dizer que sabe a pouco, lê-se de uma assentada, apetece mais palavras depois da última página. É imperativo um novo livro rapidamente. A única coisa a apontar no lançamento foi a apresentação de Eduardo Pitta e do editor da Angelus Novus, embora interessantes, deixaram pouco espaço ao mais importante: ouvir a Isabela. Vinguei-me disso no fim ao falar pessoalmente com ela com o pretexto de um autógrafo no livro. Isabela prometeu um café.
A propósito dos Cadernos um excelente texto de Rui Bebiano no blog A Terceira Noite.
E os comentários e desenhos do Irmão Lúcia.
a minha língua é a pátria portuguesa
coisas extraordinárias do gabinete
grandes crimes sem consequência
pequenas ficções sem consequência
LEITURAS
Agora e na hora da nossa morte - Susana Moreira Marques
Caixa para pensar – Manuel Carmo
Night train to Lisbon – Pascal Mercier
CIDADES