Nunca acreditei em deus. Nem no céu ou inferno e o resto da parafernália cristã. Acredito num gabinete. Com secretárias e telefones a tocar. O céu aos meus olhos assemelha-se a uma esquadra da polícia, movimento ininterrupto, dramas e zaragatas de faca e alguidar em que acabam todos abraçados a cantar a uma só voz. Há uma sala onde estão os tipos que escrevem os guiões, cheia de fumo e marcas de copos de whisky nas secretárias. Às vezes estão inspirados e escrevem épicos, outros dias há que só escrevem porcaria, sonetos mal amanhados, frases incendiárias indignas de figurar num pacote de manteiga. Os sacanas trocam-me as voltas, dão-me cabo do enredo diário e da obra-prima que poderia ser a minha vida.
a minha língua é a pátria portuguesa
coisas extraordinárias do gabinete
grandes crimes sem consequência
pequenas ficções sem consequência
LEITURAS
Agora e na hora da nossa morte - Susana Moreira Marques
Caixa para pensar – Manuel Carmo
Night train to Lisbon – Pascal Mercier
CIDADES