Esta semana dei por mim a visitar uma fábrica de histórias, uma editora, que é mais ou menos a ideia que tenho do céu. Aproveitei o momento para colocar uma questão que persegue-me há muito: por que razão, salvo raras excepções, os escritores lançados nos últimos dez, quinze anos, são todos homens? A resposta não tardou, apenas uma parte ínfima dos manuscritos que chegam às editoras são escritos por mulheres. Toma lá, que desta não estavas à espera. Tinha em mente várias hipóteses mas esta realmente nunca tinha ponderado. Garantem-me que é desejo da casa dar a conhecer novas autoras mas que elas tardam em aparecer. Saí do céu de cara à banda e desde esse dia ando a mastigar isto.
A meio da conversa surge outro enigma, por que está votada ao silêncio a obra de Maria Dulce Cardoso? Se há uma voz de peso no panorama literário actual é a dela, no entanto é quase uma desconhecida do público. Apesar do prémio da União Europeia para a Literatura no ano passado. Apesar do magnífico Campo de Sangue e do murro no estômago de Os meus sentimentos. Apesar de tudo, há um silêncio para o qual não tenho resposta.
a minha língua é a pátria portuguesa
coisas extraordinárias do gabinete
grandes crimes sem consequência
pequenas ficções sem consequência
LEITURAS
Agora e na hora da nossa morte - Susana Moreira Marques
Caixa para pensar – Manuel Carmo
Night train to Lisbon – Pascal Mercier
CIDADES