Não há nada melhor que comprovar teorias. Ataco a Ler de dezembro, comprada e lida hoje, e procuro nas suas páginas referências e pistas à minha inquietação. Na secção Principais autores e títulos referidos nesta edição encontro 93 referências a escritores e 10 a escritoras. Desta dezena de escritoras, apenas três são portugueses – Hélia Correia, Maria Velho da Costa e Maria Gabriela Llansol. Para além de uma pequena crítica ao Adoecer de Hélia Correia nas escolhas do ano de Rogério Casanova, o resto cinge-se a um parágrafo numa entrevista a João Barrento.
(...) Mas não temos, por exemplo, a presença maciça de grandes livros de uma nova vaga de mulheres romancistas, como aconteceu nos anos 80 e depois. Temos escritores "sólidos" que se afirmaram, caso inequívoco de Gonçalo M. Tavares (um tipo de escritor raro em Portugal), grandes romances que iluminam pontualmente o panorama, como o Myra da Maria Velho da Costa (Assírio & Alvim), ou o Adoecer da Hélia Correia (Relógio d'Água), e casos singularíssimos como Maria Gabriela Llansol que continua aí – já saíram, na Assírio & Alvim, dois volumes do Livro de Horas, os seus diários inéditos – com uma natureza de escrita também ela sem "qualidades" identificáveis, e à margem de toda a literatura ficcional que se vai fazendo.
Quanto à crítica das obras das restantes escritoras estrangeiras cabem numa página. Em duas dezenas de fotografias (e ilustrações) de autores, apenas uma é de Hélia Correia que aparece sorridente agarrada a um gato gorducho. Felizmente há uma estante com livros atrás da autora e do felino para nos situar. Mas nem tudo está perdido, na secção Ponto Final, na última página da revista, surge uma entrevista a uma mulher, Guta Moura Guedes, com o sugestivo título "Confesso um pecado: leio pouco escritores portugueses".
a minha língua é a pátria portuguesa
coisas extraordinárias do gabinete
grandes crimes sem consequência
pequenas ficções sem consequência
LEITURAS
Agora e na hora da nossa morte - Susana Moreira Marques
Caixa para pensar – Manuel Carmo
Night train to Lisbon – Pascal Mercier
CIDADES