...O meu pai nasceu em 1929, já em ditadura. Cresceu numa aldeia do Ribatejo, em ditadura. Veio a Guerra Civil de Espanha, havia refugiados do país vizinho pelos campos, "comiam até o musgo das paredes, com a fome que tinham" dizia-me ele de vez em quando. Depois a II Guerra Mundial, o racionamento, e as irmãs dele - minhas tias - adoeceram gravemente - "entuberculisaram", como se diz na Arrifana. O pai do meu pai morreu, e era ainda ditadura. O meu pai namorou e desfez-se o namoro, casou e teve filhos e enviuvou, e casou de novo com a primeira namorada e teve mais filhos e, em todo este tempo, era sempre, sempre, sempre a mesma ditadura. (...)
a minha língua é a pátria portuguesa
coisas extraordinárias do gabinete
grandes crimes sem consequência
pequenas ficções sem consequência
LEITURAS
Agora e na hora da nossa morte - Susana Moreira Marques
Caixa para pensar – Manuel Carmo
Night train to Lisbon – Pascal Mercier
CIDADES