Terça-feira, 25 de Janeiro de 2011

A caminho, na carruagem do metro onde me sento do teu lado esquerdo porque não ouves bem do ouvido direito, contas-me como chegaste a eles, o teu percurso na viagem que faço a teu convite. Levas uns anos de rondas por isso sabes o que dizes. Ligo a minha máquina de filmar às oito em ponto na estação de metro onde espero que chegues e que só haverei de desligar muitas horas mais tarde. A minha máquina de filmar nasceu comigo, é especial, nunca acaba a película e passado três décadas, com um arquivo imenso, começo pela primeira vez a questionar o que fazer com isto. O que fazer a isto tudo? Para que serve uma memória imensa, tantas histórias, umas boas, outras extraordinárias, outras tantas horríveis, as imagens, os diálogos, excertos e excertos de vida guardados. Enquanto não encontro uma resposta que tarda em chegar, continuo a filmar. Um dia chegou um email à caixa do blog, um convite para fazer uma ronda e eu aceitei. Haveria de passar algum tempo até se concretizar mas aqui estamos nesta noite fria a caminho. Quando saímos da estação ainda é preciso andar algum tempo até chegar à casa. Sigo no modo de gravação, falar o menos possível e ouvir com toda a atenção, técnica treinada e refinada ao longo do tempo e na qual já estou perto da perfeição. Tenho como objectivo um dia confundir-me com as paredes. Ao caminharmos preparas-me para o pior. Falas-me do homem que vive debaixo das chapas, do outro homem quase sem pernas que ocupou o terreno do Exército de Salvação, dos magotes de gente que aparece na estação de comboios. Que às vezes abraçam, contam histórias, mentem muito, mas isso tudo faz parte da relação estabelecida, que é sinuosa, um caminho de escarpas até conquistar a confiança deles.

 

(...)



publicado por afonso ferreira às 21:09 | link do post | comentar

mais sobre mim
Dezembro 2012
Dom
Seg
Ter
Qua
Qui
Sex
Sab

1

2
3
4
5
6
7
8

9
13
14
15

16
17
18
19
20
21
22

23
24
25
26
27
28
29

30
31


posts recentes

the end

Sleepless people

provérbio transmontano

cry me a river

Falta de rigor

obrigado

prémios literários

meia-noite

battle

status

Día domingo

imaginação

virtudes públicas, vícios...

fios

Estudos de um processo

arquivos

Dezembro 2012

Novembro 2012

Outubro 2012

Setembro 2012

Agosto 2012

Julho 2012

Junho 2012

Maio 2012

Abril 2012

Março 2012

Fevereiro 2012

Janeiro 2012

Dezembro 2011

Novembro 2011

Outubro 2011

Setembro 2011

Agosto 2011

Julho 2011

Junho 2011

Maio 2011

Abril 2011

Março 2011

Fevereiro 2011

Janeiro 2011

Dezembro 2010

Novembro 2010

Outubro 2010

Setembro 2010

Agosto 2010

Julho 2010

Junho 2010

Maio 2010

Abril 2010

Março 2010

Fevereiro 2010

Janeiro 2010

Dezembro 2009

tags

a minha língua é a pátria portuguesa

cartas

casamento gay

coisas extraordinárias do gabinete

conversas de caserna

correspondência epistolar

corrupção

dias felizes

domingo

domingos

estudos

ghost writer

gira-discos

grandes crimes sem consequência

literatura

mercados

mundo virtual

outras cidades

paixonite

pequenas ficções sem consequência

perdido no arquivo

playlist

relvasgate

sonhos

suicídio público

taxistas

telenovela

um homem na megalópole

vendeta

viagens

todas as tags

links
subscrever feeds