Domingo, 31 de Outubro de 2010

O homem teve uma acidente na praça. Mota deitada no asfalto, o corpo sentado no empedrado, ossos à mostra. Talvez óleo, talvez os trilhos dos eléctricos. Lembro-me dessa noite no restaurante, conversas, comida e vinho, do acidente, de quem estava à mesa. Uma já morreu, outro esteve por um triz, e não éramos assim tantos. Alguém foi embora e uma das amizades está agora em perigo. Foi uma longa noite, parece que foi ontem que tudo aconteceu. 



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Jan Saudek, The Lovers, 1987



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Sábado, 30 de Outubro de 2010

Ficas-me na pele.



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Sexta-feira, 29 de Outubro de 2010

Suspender o mundo num fim de tarde. Boa companhia, Coltrane e dois copos de vinho branco.



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Quinta-feira, 28 de Outubro de 2010

 

Há uma paz que desce gradualmente sobre todas as coisas. Prédios, pessoas, ruas, caixotes de lixo, pedras. Há um cansaço das horas a mais, o fígado a acusar o excesso, o olhar a pairar nas coisas mais esquecidas. Um baile suspenso, uma respiração pesada rente ao chão cheio de folhas caídas. Há um silêncio à espera do barulho todo.



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É mais fácil escrever que falar quando és tu que estás do outro lado da mesa.



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Lembro-me do tempo imediatamente anterior ao telemóvel, quando andávamos todos de “bip” na mão. Não foi assim há tanto tempo. O “bip”, ou “pager”, era um aparelho do tamanho de um maço de cigarros que recebia mensagens escritas. O processo era simples: quem quisesse comunicar comigo, tinha o meu número de bip, ao ligar o número a partir de um telefone fixo aparecia-lhe uma operadora a quem ditava a mensagem. Segundos depois, eu recebia no meu aparelho. Não podia responder directamente, mas podia ir ao telefone mais próximo enviar um bip à pessoas que me contactava. Hoje parece ridículo – na altura discutíamos entre amigos se “aquilo” não estava a acabar com a comunicação entre as pessoas (havia quem terminasse namoros enviando um bip...), e víamos o ridículo aparelho como uma revolução. E agora a conversa volta ao mesmo. Estamos a acabar com quê? Pedro Rolo Duarte, aqui.



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Quarta-feira, 27 de Outubro de 2010

Além de ter rido às gargalhadas, recordou-me o saudoso blog. O Pedro Ornelas, onde quer que esteja, achou piada de certeza. Inteligência e humor era com ele. Aconselho uma visita rápida antes que desapareça.



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Terça-feira, 26 de Outubro de 2010

Dizem-lhe que não tem defeitos. E ele responde com uma lista. O olhar enamorado perdoa porque é cego, mas não deixamos de ser a súmula de tudo. Depois percebe que devia fazer uma lista das virtudes, o que o faz correr. E escreve. Mas desta vez não envia, e pensa que devia cingir-se apenas e sempre às coisas virtuosas e não perder tempo com o resto. Escreve furiosamente a tentar recuperar um tempo perdido que ainda sente o gosto na boca enquanto recebe imagens de outras cidades, outras histórias, o olhar do outro em pequenos rectângulos de pixeis. No fim descobre que vive um tempo extraordinário.



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No café interrompem a conversa para tirar a minha bica. Quando a máquina silencia retomam-na no mesmo ponto. Os amigos estão contentes, o homem tem passado por ali a dar conta das novidades. Arranjou casa e agora gasta as horas livres em pequenas obras. Prepara-se para receber os filhos e é só nisso que pensa. São dois e o homem gosta muito deles. Os amigos estão contentes. Na minha rua tudo vai bem. 



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Sobre sete colinas, que são outros tantos pontos de observação de onde se podem desfrutar magníficos panoramas, espalha-se a vasta, irregular e multicolorida massa de casas que constitui Lisboa. Para o viajante que chega por mar, Lisboa, vista assim de longe, ergue-se como uma bela visão de sonho, sobressaindo contra o azul vivo do céu, que o sol anima. E as cúpulas, os monumentos, o velho castelo elevam-se acima das massas das casas, como arautos distantes deste delicioso lugar, desta abençoada região.

Fernando Pessoa, O que o Turista deve ver



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Segunda-feira, 25 de Outubro de 2010

Às vezes penso que deveria escrever uma cartinha ao meu amor, toda manuscrita com a minha melhor caligrafia e em papel da ex-papelaria Fernandes.


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publicado por afonso ferreira às 23:56 | link do post | comentar



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A inteligência manifesta-se de muitas formas. A idiotice em muitas mais.



publicado por afonso ferreira às 20:50 | link do post | comentar

A começar a semana da melhor maneira. Agora venha o resto.



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Domingo, 24 de Outubro de 2010

Um encontro casual na rua deriva na ingestão de cafeína a olhar para a cidade. Contam-me coisas tão extraordinárias que ao chegar a casa dou comigo com um pacote de leite na mão a olhar para o infinito por tempo indefinido. 


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publicado por afonso ferreira às 16:45 | link do post | comentar

Na mesma noite que ao ver umas fotografias fico aliviado – não sou que ali estou, são os outros –, fico também perturbado ao constatar que não há nada mais angustiante do que o sentimento podia ter acontecido.



publicado por afonso ferreira às 01:25 | link do post | comentar | ver comentários (1)

 

Uma vida inteira a passar no Rossio e a ficar com o coração nas mãos. Não o voltaremos a ver, pelo menos no mesmo sítio, e ainda bem. O homem sem rosto foi operado e à sua espera tem uma vida nova. No Melancómico encontrei um texto que vale a pena ler.

 



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