TUNEZ ████████████████ 100%
EGYPTO ████████████████ 100%
ALGERIA ███░░░░░░░░░░░░░ in process
YEMEN ███░░░░░░░░░░░░░ in process
Já esbarrei em muitos nomes estranhos, mas Espencer, versão portuguesa para Spencer, foi a primeira vez.
Tanto paleio para dizer que fartei-me de dar à manivela a montar móveis na casa nova de amigos. Mas a casa era linda.
Encontrar a casa ideal pode ser tão complicado quanto encontrar a pessoa certa. Resido há quatro anos na mesma, o que equivale nas minhas andaças a um casamento de assinatura firme. Para o bem e para o mal, na saúde e na doença. Para quem convive comigo e pensa que sou um perito em mudanças e disposições de mobiliário, é mais do que certo o convite para visitar a casa nova. Eu compareço à chamada e vejo paredes e soalhos, a disposição do sol pelas assoalhadas, ouço as histórias dos antigos proprietários; mas também encontro desastres arquitectónicos, casas viradas do avesso sem ponta que se pegue, casamentos frágeis com divórcio à vista num futuro muito próximo. Colecciono vistas de traseiras e logradouros na memória, ponho pioneses no mapa da cidade por cada casa onde já entrei.
Oito casas em catorze anos, se não fazem de mim um perito fazem um louco
A Babel abriu hoje mais uma livraria na Cinemateca. Bebeu-se vinho do Porto, vieram as câmaras do Ah, a Literatura, entrevistas, pessoas a circularem por entre os livros, o Paulo Teixeira Pinto a fazer o papel de anfitrião. Cada vez que assisto a um nascimento destes penso no milagre económico.
Farhenheit 451, François Truffaut
I.
Depois de quase ter renunciado à vida nocturna, recentemente vários eventos forçaram-me a sociabilizar a altas horas da madrugada em pistas de dança apinhadas. Várias considerações: é realmente muito difícil manter uma conversa junto a uma coluna de som; nunca vi ninguém bêbado com mau vinho que seja um santo quando está sóbrio; o contrário também se aplica; nunca ficar até amanhecer, e nunca, mas mesmo nunca, sair da pista directamente para a luz do dia; se beber não seduza.
II.
O número de amigos a chegarem do estrangeiro nas próximas semanas é avassalador. É quase como um segundo Natal ou um Agosto fora de tempo. Não sei se tenho agenda que chegue. O problema é quando começar a levar pessoas ao aeroporto. Nunca lidei bem com despedidas, se há sítio onde já percorri todas as emoções foi na zona das partidas na Portela. [Por falar nisso, nem tudo foram desgraças. Há uma despedida em particular que meteu um gato drogado dentro de uma caixa que foi uma beleza. Um dia destes conto.]
III.
Abro uma embalagem de iogurte, marca Royal, e no verso descubro a seguinte frase seguida do logotipo: "Não fabrica para outras marcas". E se dúvidas restassem, a seguir vem traduzida em espanhol. Como? Alguém consegue explicar-me? Agora é moda as marcas publicitarem desta forma? Faltam-me conhecimentos de marketing elementar.
IV.
Um filme que comece com o John Travolta a levantar da cama e a vestir uma farda militar antes do genérico não pode significar coisa boa.
E quem é que fiscaliza a TMN? Quem deu a ordem de destruição dos dados de tráfego? Qual o motivo da comissão não ter ouvido nenhum dos intervenientes? E que porcaria de critérios editoriais são estes?
Nem sei explicar o motivo para estar a pensar em futebol a esta hora da manhã (insónias, insónias, cada vez mais refinadas) mas nunca percebo quando sou acusado de não ser um verdadeiro apreciador (ler fanático) só porque limito-me a assistir aos grandes jogos. Eu gosto de futebol, não tenho é tempo. Se não tenho tempo para ler todo o lixo que é publicado e posto à venda nas livrarias, por que razão teria para assistir a todos os jogos? Um Europeu é puro Dostoiévski, num Mundial entramos na categoria do prémio Nobel. Já senti um ataque de coração no famoso PortugalxInglaterra; já chorei a ler Cardoso Pires. Só ter tempo para o melhor é uma coisa que demora imenso tempo a conquistar.
A combater insónias desde 1977.
De dia a cumprir tarefas como um escriturário diligente; à noite a criar cenários improváveis de forma ambiciosa.
Um atropelamento muito provavelmente mortal por um triz. O meu. Com direito a levantar os dois pés do chão e dizer muitas palavras pouco elegantes sem intervalo para respirar. Ao menos morria na rua. Era pior se fosse atropelado na cozinha.
Chego à noite a casa e preparo-me para a maratona de escrita, amanhã há entrega e tenho o texto já estruturado mas vamos a meio da escrita propriamente. Mas, já nem sei bem porquê, acabo a desviar-me dos planos iniciais e a ler as terríveis notícias sobre a mulher encontrada morta, e depois de deambular mais um pouco assisto a esta entrevista de Hitchens. E mais uma vez acabo a pensar no homem do casino e na solidão. Há muitos anos, numas férias no Mónaco, decidi jantar no casino na noite da minha chegada. Entro na sala elegante, lustres e dourados, um pé direito impressionante, repleta de smoking e vestidos compridos. Sento-me e peço ostras e bebidas e tudo naquele momento é perfeito; a companhia, o sítio, a comida. Lembro-me de contar entusiasmado a minha tarde passada a ver a colecção de carros do príncipe, de falar longos minutos sobre pormenores de design e de uns prédios de rara arquitectura perto do local. Depois vi-o. O homem a jantar no casino, sozinho numa mesa, com ar triste e semblante carregado. A comer sem tirar os olhos do prato e sem olhar os empregados; nem uma única vez olhou para a sala ou para as outras mesas. E acabei a noite a jantar em silêncio com vista para o homem mais solitário do mundo.
Amanhã vou mesmo tirar o saco da cabeça. Acabei de ser informado que abriu a época da Lampreia. Que se lixem as vergonhas, ala para o restaurante.
...enviar num acto de loucura a pior mensagem que temos memória e recebermos resposta. Amanhã talvez já seja capaz de sair à rua sem um saco na cabeça.
a minha língua é a pátria portuguesa
coisas extraordinárias do gabinete
grandes crimes sem consequência
pequenas ficções sem consequência
LEITURAS
Agora e na hora da nossa morte - Susana Moreira Marques
Caixa para pensar – Manuel Carmo
Night train to Lisbon – Pascal Mercier
CIDADES