Um dilema moral: na posse de informação confidencial sobre outrem mas que nos atinge directamente, parte-se já a loiça toda ou espera-se pela sobremesa?
Há uma semana apanhei o Manuel Monteiro na televisão e depois do choque inicial deste regresso ao mundo dos vivos e de o ver sem óculos, ouvi uns lugares comuns de economia-chinelo. Dizia o Monteiro que no início de carreira quando chegou à banca ensinaram-lhe uma regra de ouro – se o cliente deve uma pequena soma ao banco é certo que tem um problema, mas se deve uma grande quantia passa o banco a estar em apuros. Muito haveria a dizer sobre as minha insónias e os motivos insondáveis para estar a evocar o Monteiro a esta hora mas vamos ultrapassar isso. Estava aqui a pensar com os meus botões que estou como o banco, a soma é exorbitante, são letras e letras que não foram ressarcidas, doravante o problema será meu. Agora vou pegar no caderno de economia do Expresso e tentar uma correspondência entre indicadores económicos e signos astrológicos.
Amor é a possibilidade de duas pessoas não se aborrecerem uma à outra.
Ruben A.
Consigo conviver com problemas, situações inesperadas, até com pior lado da vida e dos outros, mas não suporto padrões. A repetição de certas mecânicas recorda-me sempre a frase de António Vieira, 'Não há coisa tão preciosa, e tão útil, que continuada não enfade.'
Escrevo sobre os domingos, as insónias e o lado negro, para não falar dos outros dias todos, das noites tórridas e do que me move.
Andava há dias e dias, uma semana talvez, para escrever um post. Entrava no blog, escrevia o título, uma frase, e depois distraía-me a pensar na história em si. Um enredo complexo e tentacular que iniciou com um email recebido. Soube há poucas horas que a pessoa suicidou-se, foi hoje a enterrar, fornecendo desta forma o fim mais inesperado numa história por si só já bizarra o quanto baste. Sinto que esse texto nunca verá a luz do dia, há neste desfecho uma espécie de fim duplo.
As pessoas dividem-se entre as que odeiam semanas com dois domingos ou duas segundas.
Outra semana com dois domingos. Isto não pode fazer bem a ninguém.
Não sou assim tão parvo.
Diz-se jogo de azar aquele em que a perda ou o ganho dependem unicamente da sorte e não das combinações, do cálculo ou da perícia do jogador.
Código Civil Português, art. 1542
Se o amor, a amizade e o apoio dos outros são basilares na minha travessia, o desamor, as facadas e o desamparo são educativas. Aprendo muito nos dias que correm.
a minha língua é a pátria portuguesa
coisas extraordinárias do gabinete
grandes crimes sem consequência
pequenas ficções sem consequência
LEITURAS
Agora e na hora da nossa morte - Susana Moreira Marques
Caixa para pensar – Manuel Carmo
Night train to Lisbon – Pascal Mercier
CIDADES