Uma mentira estraga mil verdades.
Relvas foi sempre «dos últimos a deitar-se e dos primeiros a acordar». Talvez por isso, na sua já longa carreira política, até chegar a ministro-adjunto, só por duas vezes se viu em apuros. A primeira foi em meados dos anos 90, quando presidia à Comissão Parlamentar de Juventude. Embora alguns colegas do PSD assegurem à Visão que «os seus discursos tinham ghost-writers de peso», a verdade é que o discurso proferido pelo deputado Miguel Relvas no estabelecimento prisional de Coimbra não começava da forma mais adequada: «Quero agradecer esta oportunidade: é sempre bom conhecer os presos no seu habitat natural». Seguiram-se anos de justificado silêncio parlamentar.
Acusaram-me de ser mitómano pela primeira vez. Toda a vida fui acusado e tive problemas exactamente com o contrário, detesto a duplicidade, a falha no discurso, a mentira proveitosa, a história mal contada, o carácter frouxo. E nem sempre sou meigo quando aponto o dedo, para dizer a verdade raramente sou, ao ponto de já ter perdido a razão só pela forma como reagi. Tive dezenas de problemas e situações que nasceram sempre da mesma premissa, uns acabaram bem, muitos acabaram terrivelmente mal com amizades perdidas e comigo a bater portas no trabalho. Sei que é talvez a minha principal característica e talvez a que mais me orgulhe e defina, mas também o meu calcanhar de Aquiles, é onde tentam acertar para me atingir o coração, é a única coisa que é capaz de me fazer sofrer. De tal forma esta premissa é constante que já inventei frases para minha lápide a gozar com o assunto. Quando me acusaram de mitómano confesso que tive de ler sobre o assunto, tinha só uma ideia vaga do significado da palavra ou o sentido em que podia ser proferida. E só quando acabo de pesquisar e ler sobre percebo finalmente que a condição (doença) psicológica assenta como uma luva a a quem me acusou e que no fundo é só mais uma situação igual a todas as outras.
Nos restaurantes discutimos
qual de nós pagará o teu funeral
ainda que a verdadeira pergunta seja
se farei ou não de ti um ser imortal.
Neste momento só eu
posso fazê-lo e assim
levanto o garfo mágico
sobre o prato de carne e arroz frito
e cravo-o no teu coração.
Há um pequeno estalido, um zumbido
e da tua própria cabeça fendida
emerges incandescente;
o céu abre-se
uma voz canta O Amor É Uma
Coisa Esplendorosa
circulas suspenso por cima da cidade
com um fato azul e uma capa vermelha,
os teus olhos brilhando em uníssono.
Os outros comensais olham-te
alguns com temor, outros só com aborrecimento:
não conseguem decidir se és uma nova arma
ou apenas outro anúncio.
Quanto a mim, continuo a comer;
gostava mais de ti como eras,
mas tu sempre foste ambicioso.
Margaret Atwood
Dizer e dizer há meses a mesma coisa e mesmo assim nenhum resultado. A estupidez de algumas pessoas deveria ser um caso de estudo.
Começar o dia a ter uma conversa com o gerente do supermercado do bairro a pedir para regarem as plantas.
Lembram-se desta notícia? Ontem garantiram-me que a sinalização continua a apodrecer no tal armazém. É hilariante. Esta é uma das muitas irregularidades detectadas. Um milhão para o lixo. Vá, falem lá da despesa pública...
O tempo passa e agora surgem pessoas de todo o lado a contar histórias, a fazer queixas, a denunciar esquemas, a maldizer. Mas onde é que elas andavam há uns tempos? Alguma fez uma queixa nas entidades competentes? Alguém publicou nos jornais? Alguém tomou alguma acção concreta? A impunidade começa assim, muita gente descontente a falar mas ninguém a fazer nada.
Os livros podem ser objetos admiráveis e alguns deles estão na exposição 'Tarefas Infinitas - Quando a Arte e o Livro se Ilimitam', que se inaugura hoje no Museu Gulbenkian, em Lisboa. A mostra é organizada pelo Museu Gulbenkian em colaboração com a Biblioteca de Arte Gulbenkian, e com curadoria de Paulo Pires do Vale. Partindo do espólio do colecionador Calouste Sarkis Gulbenkian (1869-1955), "que procurou, investigou e adquiriu obras de arte e livros excecionais, não apenas pelo seu conteúdo informativo, mas pela sua beleza e criatividade artística".
A Feira Franca na Avenida da Liberdade
Litografia colorida, José Ribeiro Cristino Roque Gameiro
Litografia colorida representando a Feira Franca realizada na Av. da Liberdade em 1898, por ocasião das comemorações do IV Centenário da India. A gravura representa toda a zona correspondente à actual Praça Marquês de Pombal, preenchida pelos pavilhões da feira, formando um recinto poligonal, que se estendem, para sul, aos últimos quarteirões da Avenida da Liberdade, onde circulam charrets e "Americanos". A norte, limitada pelo edifício da Penitenciária e pela Quinta da Torrinha, pode ver-se a área rústica de terras de semeadura e olivais que veio a ser posteriormente ocupada pelo Parque da Liberdade, rebaptizado Parque Eduardo VII por ocasião da visita a Portugal daquele soberano britânico, em 1903. Projectada por José Luís Monteiro, a Feira Franca formava um complexo e divertido recinto de diversões, de forte pendor popular, que a par do cortejo cívico, complementava o formalismo dos actos oficiais das comemorações.
Ricardo Alexandre deixou de ser director-adjunto da RDP, Maria José Oliveira deixou de ser jornalista do Público e Fernando Santos Neves deixou de ser reitor da Lusófona do Porto. Quase todos os envolvidos nestes casos abandonaram as suas funções, menos Relvas. (...) O mais provável é que todo o povo português se demita antes de Miguel Relvas.
O pior da minha altura preferida do ano – os incêndios. Estava a jantar no restaurante e recebi as primeiras notícias da Madeira. Coisas que desaparecem para sempre – vidas, floresta, casas, edifícios.
O que distingue este ano dos outros é que nos anteriores percebia-se quando a silly season chegava.
Só há coragem quando os vícios e as acções não são públicas.
O uso desonesto da palavra é um dos maiores flagelos da humanidade de hoje. António Quadros
Ontem fui à manifestação na Assembleia a pedir a demissão do Relvas. Sou de direita, e por isso mesmo, um aldrabão de direita faz-me mais comichão que um de esquerda. Mais facilmente vou para a rua berrar contra quem tem o meu voto que nos outros. Encontar tantas pessoas de direita na manifestação fez-me ter esperança que o partidarismo agudo já não serve a todos.
a minha língua é a pátria portuguesa
coisas extraordinárias do gabinete
grandes crimes sem consequência
pequenas ficções sem consequência
LEITURAS
Agora e na hora da nossa morte - Susana Moreira Marques
Caixa para pensar – Manuel Carmo
Night train to Lisbon – Pascal Mercier
CIDADES