É do senso comum associarmos a violência com acções fortes mas existem outras formas de violência menos identificáveis à vista desarmada. Há uma violência subtil que pode fazer iguais estragos. Passei parte da noite a assistir a um debate entre um grupo de pessoas. A que aparentava ser a mais calma e razoável numa leitura superficial revela-se a mais nefasta na conclusão das ideias trocadas.
Imaginem que têm uma sala com dez pessoas a discutirem um assunto e que acabam por agregarem-se em torno de duas ideias e das respectivas pessoas que as defendem. É quase inevitável que todos, inconscientemente, condenem quem perder primeiro a cabeça, e por isso pode entender-se o primeiro que ofenda ou fale mais alto, por exemplo. No entanto, isso não significa que a pessoa não tenha razão. Do outro lado poderá estar uma pessoa que aparente serenidade, mas o meio para atingir o fim, para ganhar a disputa, poderá passar por uma provocação velada insistente e as ofensas indirectas também serão parte do seu discurso, e embora seja subtil, ou por isso mesmo, poderá ser muito mais ameaçador.
No geral as pessoas estão condicionadas a só ver a preto e branco e são induzidas a condenar ou aprovar consoante as leituras superficiais que fazem. Não aprovam ideias, dão razão ao menos ameaçador.
Nada disto que estou a dizer constitui novidade e está mais do que estudado pela psicologia comportamental. O facto mais interessante no grupo que observei foi as pessoas concordarem numa maioria esmagadora com o colérico e não com o falso passivo. A dúvida era se por acaso tal comportamento devia-se a simplesmente concordarem com a ideia proposta, ou se, inconscientemente, identificarem o cordeiro com pele de lobo. Nunca o saberei mas foi muito instrutivo.
a minha língua é a pátria portuguesa
coisas extraordinárias do gabinete
grandes crimes sem consequência
pequenas ficções sem consequência
LEITURAS
Agora e na hora da nossa morte - Susana Moreira Marques
Caixa para pensar – Manuel Carmo
Night train to Lisbon – Pascal Mercier
CIDADES