Este é o meu segundo blog, o primeiro durou uns anos, ao fim de algum tempo, o mundo da blogosfera parecia-me estagnado e decidi sair. Também ajudou ter dado cabo do html e do template de forma irremediável numa das muitas modificações à pata sem conhecimentos muito profundos. Pareceu-me um sinal divino e afastei-me. Mantive-me, no entanto, a ler com assiduidade a blogosfera.
Ao fim de três anos decidi iniciar o Um Homem na Cidade. Entretanto a blogosfera mudou muito. O peso dos blogs de opinião política aumentou e passaram a competir com os jornais. Surgiram muitas vozes novas, algumas deram o salto para a imprensa e para aqueles desejados cargos comentadores-de-tudo-e-mais-um-par-de-botas. Muitos aspiram a esse salto, como quem passa pelas jotas almeja chegar a líder do país, mas ainda não foram bafejados pela sorte, talvez as cunhas não serão as mais corruptas, ou, o mais certo, não têm rigorosamente nada a dizer e o mundo agradece. Muitas pessoas totalmente desconhecidas antes e sem mérito subiram desta forma na vida profissional.
Salvo raras excepções, os blogs de mais influência estão mais direccionados ao ataque, maledicência e à autopromoção do que propriamente num diálogo construtivo, apresentação de novos projectos e soluções, ou um simples discurso ou análise inteligente. Exemplo flagrante disso foi a grande polémica em relação ao casamento homossexual e a pouca afluência no debate do orçamento, uma questão vital no estrangulamento económico actual em que vivemos. Parece que para dar bitaites sobre o casamento há muitos opinadores, ter noções de economia e gestão é mais complicado. É a triagem natural, à semelhança da natureza, no fim sobrevivem os mais fortes.
Há uma confusão pouco saudável entre opinião e notícia. E uma mistura doentia entre o profissional e o privado. Basta dar uma vista de olhos pelos principais blogs para compreender que a maior parte do que é discutido não é mais do que dores de corno, ódios assassinos, amores mal resolvidos e ajustes de conta. Vale tudo e já não há heróis.
Gostava de acrescentar que a maioria escreve mal, tão mal que até dói os olhos. Alguém convença esta gente que ser jurista, canalizador ou filósofo nem sempre é sinónimo de boa literatura.
E, para compor o ramalhete, parece que agora há uma classe de parasitas à solta na blogosfera. Alguém lança um tema, por mais inócuo que seja, sei lá, a minha empregada deu-me cabo dos peúgos, e imediatamente o parasita replica o mesmo na sua tasca, sim senhora, a minha empregada é um desastre com os detergentes, assim falamos todos da mesma coisa e vamos dando nas vistas subindo em bicos de pés à boleia alheia.
Dentro da classe dos parasitas há uma pior do que as outras. Esta ataca qualquer pessoa que se destaque por mérito próprio, quanto mais longe subir pior é o ataque que poderá manifestar-se de várias formas. A melhor, com mais proveitos, é arrasar as suas ideias, tentando criar um ciclo viciado de ataque-e-resposta, e como arma serve tudo o que esteja à mão. O exemplo mais flagrante actualmente é o Pedro Lomba, não há opina-sopinhas que não deseje entrar em confronto, o must é conseguir que ele responda, está criado o trampolim, enquanto aquilo durar é mais do que certo que o nome do parasita ganha pontos na grande tasca que é a blosgosfera. No fundo, é tudo uma questão de ranking.
Ando a dar voltas e voltas a pensar em algo para o atacar – não é fácil, até à despensa do Diário da República já foram –, não que desgoste do que escreve, antes pelo contrário, reconheço-lhe razão na maior parte das vezes, a questão é que tenho imensas opiniões para vomitar em horário nobre. Para começar ficava contente com uma coluna de opinião num jornal.
a minha língua é a pátria portuguesa
coisas extraordinárias do gabinete
grandes crimes sem consequência
pequenas ficções sem consequência
LEITURAS
Agora e na hora da nossa morte - Susana Moreira Marques
Caixa para pensar – Manuel Carmo
Night train to Lisbon – Pascal Mercier
CIDADES