Sábado, 7 de Maio de 2011

 

 

Esbarramos numa festa e falamos de coisas banais. O malefício do tabaco e que desejos percorremos como forma de matar o tempo nas respectivas vidas. Depois combinamos encontro na mesma noite noutra festa. No balcão do Lux com duas imperiais na mão fazemos contas aos anos da amizade. Parece que já contamos com vinte e um em cima. Ou melhor, vinte, porque no primeiro ano lutávamos em campos opostos. Segundo o meu amigo, a nossa primeira memória é ele a tentar desmanchar o meu focinho. Faço um esforço de memória hercúleo e não recordo a situação. Mas ele desfia os pormenores, foi uma coisa de grupo, nem hoje sabe o motivo para ter feito aquilo. Cercaram-me e parece que eram muitos. A ideia era darem-me uma sova. Não recordo a situação, nem como é que escapei vivo. Faz um ar melancólico e diz que ainda hoje recorda com nitidez aquele mal fadado dia e que é das situações na sua vida que mais lamenta. Sou apanhado de surpresa com a declaração, fico a abanar o copo no ar e a pensar que para alguém que tem como principal característica uma memória acima da média, não recordar esta quase cena de pancadaria não deixa de ser insólito. Pergunto-lhe o motivo, por que desejava ele bater-me e a sua resposta faz-me perceber os vinte anos seguintes e todas as batalhas onde entrei, levei no focinho, desfiz uns quantos, espetei bandeiras, sofri nódoas negras, perdi guerras, conquistei territórios: parece que não me calo. 



publicado por afonso ferreira às 02:58 | link do post | comentar

1 comentário:
De Cristina a 8 de Maio de 2011 às 21:54
Velhos tempos em que o bullying não tinha nome... estrangeiro.


Comentar post

mais sobre mim
Dezembro 2012
Dom
Seg
Ter
Qua
Qui
Sex
Sab

1

2
3
4
5
6
7
8

9
13
14
15

16
17
18
19
20
21
22

23
24
25
26
27
28
29

30
31


posts recentes

the end

Sleepless people

provérbio transmontano

cry me a river

Falta de rigor

obrigado

prémios literários

meia-noite

battle

status

Día domingo

imaginação

virtudes públicas, vícios...

fios

Estudos de um processo

arquivos

Dezembro 2012

Novembro 2012

Outubro 2012

Setembro 2012

Agosto 2012

Julho 2012

Junho 2012

Maio 2012

Abril 2012

Março 2012

Fevereiro 2012

Janeiro 2012

Dezembro 2011

Novembro 2011

Outubro 2011

Setembro 2011

Agosto 2011

Julho 2011

Junho 2011

Maio 2011

Abril 2011

Março 2011

Fevereiro 2011

Janeiro 2011

Dezembro 2010

Novembro 2010

Outubro 2010

Setembro 2010

Agosto 2010

Julho 2010

Junho 2010

Maio 2010

Abril 2010

Março 2010

Fevereiro 2010

Janeiro 2010

Dezembro 2009

tags

a minha língua é a pátria portuguesa

cartas

casamento gay

coisas extraordinárias do gabinete

conversas de caserna

correspondência epistolar

corrupção

dias felizes

domingo

domingos

estudos

ghost writer

gira-discos

grandes crimes sem consequência

literatura

mercados

mundo virtual

outras cidades

paixonite

pequenas ficções sem consequência

perdido no arquivo

playlist

relvasgate

sonhos

suicídio público

taxistas

telenovela

um homem na megalópole

vendeta

viagens

todas as tags

links
subscrever feeds