Hoje tornei a sonhar com o rio. Já sei que o dia não vai correr bem. Fiz de propósito e fui para o trabalho pela marginal. Gostava de te esquecer definitivamente, por vezes penso que consegui, mas depois volto a sonhar com o rio, com o barco, contigo. Fui muito feliz nessa altura e não o percebi. Era novo e era estúpido e tive medo. Lembro-me de ti, encharcada até aos ossos, o cabelo em desalinho mas tão feliz. Usavas umas sandálias azuis de tiras e o meu casaco que mais parecia uma capa de tão largo que estava. Agora, passado tantos anos, torno uma e outra vez a sonhar com essa viagem, essa tarde. Encontro-te na rua com as crianças e volto a ser assaltado pelos mesmos fantasmas. Era comigo que devias estar, estes deveriam ser os meus filhos. Agora é tarde demais.
a minha língua é a pátria portuguesa
coisas extraordinárias do gabinete
grandes crimes sem consequência
pequenas ficções sem consequência
LEITURAS
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Caixa para pensar – Manuel Carmo
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CIDADES