Cheguei a casa e não tinha o coração comigo. Estes roubos urgem serem severamente punidos. Não deveria ser permitido cruzarmo-nos com criaturas diáfanas à solta que pedem cigarros sem avisar e nos desviam das conversas confortáveis de sempre. Deveriam ser multadas sem dó quando decidem raptar incautos para desfiar histórias de trufas e restaurantes com anémonas. E julgadas em tribunal marcial por dizerem tudo com graça, olhos dengosos e cabelos ao vento. Se tudo acontecer ao entardecer, a hora mais perigosa do dia, deveriam ser aplicadas duras sanções. Mas o castigo maior ficaria reservado por despedirem-se com palavras sussurradas ao ouvido, sem largarem o nome, e com corações alheios pela trela. Raios partam.
a minha língua é a pátria portuguesa
coisas extraordinárias do gabinete
grandes crimes sem consequência
pequenas ficções sem consequência
LEITURAS
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Caixa para pensar – Manuel Carmo
Night train to Lisbon – Pascal Mercier
CIDADES