(...) Sentou-se ao computador com a barba de três dias e de peúgas. [panorâmica da sala de estar deprimente, uma televisão ligada sem som, um estendal com roupa a secar] Começou a ronda no Facebook pelas fotografias das amigas dos amigos. Enviou indiscriminadamente a mesma frase dezoito vezes. "Olá. Parece-me que temos muito em comum." [close up do monitor, som das teclas do computador]Amigável, breve e suficientemente misterioso, um achado de frase. A experiência dizia-lhe que uma em vinte mordia o isco. Esperava ter sorte esta noite. Uma noite de domingo insuportável, solitária e triste. Na verdade não variava muito de todas as outras noites. Tinha recebido uma mensagem de resposta da ronda anterior, mas descobrira entretanto que era casada, o que era pena porque era muito gira. Decidiu mesmo assim que daria uma resposta. Continuou a ver perfis. Deteve-se numa fotografia, não era muito atractiva mas o currículo e os amigos compensavam esse pormenor. Enviou-lhe a mesma mensagem. A coisa boa das feias é que costumam responder sempre.
a minha língua é a pátria portuguesa
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grandes crimes sem consequência
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