Há ruas para todos os sentimentos na minha geografia sentimental e vida azarada. Há a rua na qual o meu carro foi rebocado e multado mais vezes, por exemplo. Há a rua onde sempre que a percorro não consigo evitar olhar para uma determinada janela e ninguém sabe a história porque nunca a contei. Há também a rua onde apanhei um dos maiores cagaços das minha vida. Ontem descobri a rua mais perigosa. Tantas vezes a percorri sem suspeitar de nada, há pelo menos vinte anos que a subo e desço e sempre pareceu inofensiva. Mas isso foi antes de forças misteriosas e altamente improváveis terem decidido que passaria a ser a morada de três ex-namoradas. Como uma não posso ver à frente, outra passou a amiga e a terceira estou a ver se recupero o tempo perdido, circular naquela zona tornou-se uma finta ao ataque de coração. Aquela rua ainda vai ser a minha desgraça.
a minha língua é a pátria portuguesa
coisas extraordinárias do gabinete
grandes crimes sem consequência
pequenas ficções sem consequência
LEITURAS
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Caixa para pensar – Manuel Carmo
Night train to Lisbon – Pascal Mercier
CIDADES