Acordo, percebo que dormi oito horas pela primeira vez em cinco meses, e saio ainda ensonado para tomar o pequeno-almoço. Pelo caminho percorro o quotidiano – as obras na casa do primeiro andar; o segurança dos juízes mais atento às raparigas em flor do que à insegurança; um homem de ar cabisbaixo; o eléctrico a ranger; os turistas a ruminar colina acima, colina abaixo. No café tenho direito a uma pequena peça de teatro da qual usufruo enquanto saturo as veias de cafeína. A conquista amorosa a decorrer para gáudio das minhas pálpebras pesadas. Talvez por ter lido ontem um texto que me exasperou, talvez por as voltas na minha própria vida guiarem a minha atenção, dei por mim a assistir à rábula e a interrogar-me por que razão as pessoas revelam o seu lado pior quando tentam conquistar alguém, em vez de oferecerem o seu melhor. Isto agora ficava a matar com uma citação do Bauman mas para isso precisava de mais café no bucho.
a minha língua é a pátria portuguesa
coisas extraordinárias do gabinete
grandes crimes sem consequência
pequenas ficções sem consequência
LEITURAS
Agora e na hora da nossa morte - Susana Moreira Marques
Caixa para pensar – Manuel Carmo
Night train to Lisbon – Pascal Mercier
CIDADES