Na estrada encontro o canhão do homem-bala. Em tons de azul festivo, todo ele pólvora, ilusão e hérnias discais. O azul-festivo do canhão é parecido ao da piscina, que agora arranjada parece outra. Uma piscina banal que todos aplaudem e molham um pé para testar a temperatura, mas que não deixa de ser o que é, uma entre tantas. A anterior era temperamental, se caiam bátegas e soprava o vento forte do oceano, a água transbordava e inundava a casa. O azul das paredes tingia o que apanhava à frente – terreno, chão, árvores, limões – até contaminar tudo. Entramos pelo portão da casa com as azeitonas em flor. Uma diva, apesar da esclerose lateral amiotrófica – o pior tipo de prisão domiciliária – , que nos recebe com alegria circense. Mais tarde, quando o areal é uma extensão a perder de vista, ou é o mar que é tão infinito, mergulho no resto.
a minha língua é a pátria portuguesa
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grandes crimes sem consequência
pequenas ficções sem consequência
LEITURAS
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Caixa para pensar – Manuel Carmo
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CIDADES