Estou cansado. As articulações roídas, os nervos esticados. Talvez seja domingo e a manhã inicie luminosa, a claridade em força na copa das árvores. Tranquilidade e desassossego em doses finas e letais. Hoje é mais uma manhã, ou a última manhã, do início da contagem decrescente. Tenho à espera livros e preços de bilhetes de avião para comparar. A Europa é um mapa e a crise joga a meu favor. Hoje é mais uma manhã de domingo e não tenho palavras que remedeiem o facto de todos os fins e recomeços serem duros e levarem-nos frases e histórias inteiras que nunca mais vemos. Não possuo palavras, apenas manhãs adocicadas de planos e contracurvas, enterros e construções. Tenho todas as manhãs em mim e um olhar endurecido pela responsabilidade de ver o dia a nascer sob os telhados e a copa das árvores.
a minha língua é a pátria portuguesa
coisas extraordinárias do gabinete
grandes crimes sem consequência
pequenas ficções sem consequência
LEITURAS
Agora e na hora da nossa morte - Susana Moreira Marques
Caixa para pensar – Manuel Carmo
Night train to Lisbon – Pascal Mercier
CIDADES