Antonio Tabucchi (1943 - 2012)
Começo o dia com a tua morte e não me sabe bem. Morrem-me os escritores às mãos cheias e eu não dou valor à morte, é uma mal educada e inconveniente. A morte irrita-me. Leio as notícias e regresso a Requiem imediatamente. Mais uma vez. Cá está ele na estante. Já não sei quantas vezes o reli. Não tem data, o que significa que anda comigo há mais de dez anos. Um dia quente, muito mais quente que o de hoje, a cidade a mesma, Lisboa eterna, os mortos, os fantasmas e um homem a despedir-se pela última vez de pessoas e coisas desaparecidas na sua vida – um amigo, uma mulher, o pai, um poeta, uma casa, uma pintura. Um sonho que evoca a morte com alegria, e isto leva-me ao sonho desta noite, um amigo que desaparecia para sempre. Quando acabar este texto vou fazer uma chamada. Mas os livros. Portanto, cá está o Requiem, Os últimos três dias de Fernando Pessoa, O anjo negro, e o Está a fazer-se cada vez mais tarde, que não gostei a primeira vez que li mas depois de muita pancada na vida apreciei com vigor cada uma das palavras. Falta o Afirma Pereira que deve ter ganho vida própria e ido a banhos sem dizer água vai. Andará por aí com certeza. Olha, António, foram muitos anos a ler os teus livros, e para cá fico com o remorso não ter lido todos, mais dia menos dia temos encontro marcado no outro lado das palavras.
a minha língua é a pátria portuguesa
coisas extraordinárias do gabinete
grandes crimes sem consequência
pequenas ficções sem consequência
LEITURAS
Agora e na hora da nossa morte - Susana Moreira Marques
Caixa para pensar – Manuel Carmo
Night train to Lisbon – Pascal Mercier
CIDADES