Certos estados de espírito não se coadunam com o Verão, é uma constatação antiga, de modo que para conseguir pensar melhor lá fui eu à igreja mais próxima, por acaso a de São Domingos ao Rossio, enquanto esperava por um fax maldito que tardava a chegar ao banco. Sendo a minha religiosidade proporcional ao meu desprezo pelos bancários, particularmente os de um banco em especial, espero sinceramente não ter andado errado a vida toda e que deus seja realmente uma ilusão, ou que, pelo menos, tenha batido as botas e esteja Nietzsche coberto de sapiência, por que senão estou feito ao bife com a porcaria de pensamentos que levo para a casa dele. É sabido que quanto mais sórdidas são as minhas preocupações, mais necessidade sinto de espaços em silêncio, de preferência com tectos altos trabalhados e uns frescos a iluminar as paredes, de maneira que ir parar a igrejas é uma constante. Já consegui fazer quase tudo pelos templos da cidade – pensar, roer maças, escrever, acabar uma relação por sms, ler, diálogos com o meu amigo imaginário, escrever uma apresentação inteira para uma reunião, esperar faxes do banco... –, enfim, são infindáveis as possibilidades, excepto quando há missa e me perco nos sermões.
a minha língua é a pátria portuguesa
coisas extraordinárias do gabinete
grandes crimes sem consequência
pequenas ficções sem consequência
LEITURAS
Agora e na hora da nossa morte - Susana Moreira Marques
Caixa para pensar – Manuel Carmo
Night train to Lisbon – Pascal Mercier
CIDADES