Quando é que perdi a capacidade de olhar? Chegas e dizes o óbvio. As palmeiras engoliram a cidade, já não se vê a outra colina da janela, só uma nesga, os anos passaram e as árvores cresceram e engoliram-me, à cidade e a mim, e eu não vi por estar demasiado ocupado a olhar para o chão. Relembras-me histórias, pequenos eventos. Não recordo nada, apenas uns farrapos dispersos. Eu, que tenho memória de lince. Atalhas caminho e vais directo ao assunto. O que penso de estabelecer um compromisso? Percebo que estou completamente submerso em atavismos e que foi tudo duríssimo. Sou um náufrago, vivo mas ainda à deriva, incapaz de ver terra.
a minha língua é a pátria portuguesa
coisas extraordinárias do gabinete
grandes crimes sem consequência
pequenas ficções sem consequência
LEITURAS
Agora e na hora da nossa morte - Susana Moreira Marques
Caixa para pensar – Manuel Carmo
Night train to Lisbon – Pascal Mercier
CIDADES