Ando a ler o site Guerra Colonial. Recentemente, entre amigos, ao som do FMI do José Mário Branco, iniciámos uma conversa acerca de armas. As armas que nos anos 70 e 80 abundavam nos lares portugueses muito por culpa dos militares que voltaram para o país com armamento. Por culpa da guerra colonial digo eu, porque há quem defenda que armas é o que não falta(va) no país, com ou sem guerra. E, com certeza, de alguma lado têm de aparecer as armas que matam o vizinho por causa da delimitação de terra que foi alterada, a arma que mata a mulher entre portas. Outras das coisas que abundavam eram as fotografias. Como ninguém da minha família mais próxima esteve na guerra ou viveu nas colónias foi algo a que não tive acesso no meu lar. Mas tive na casa de amigos. Vi muitas. Algumas mesmo horrendas. O horror impresso em pequenos quadrados de papel, a maior parte delas a preto a branco. Um amigo contava, para ilustrar a proliferação de armas na altura, que era miúdo e estava sozinho a estudar em Setúbal. Quando deu por ele estava num carro com uns tipos mais velhos a caminho da discoteca Shangai na Baixa da Banheira. Percebeu no percurso que o carro estava pejado de armas. Armas de todas as formas e feitios na bagajeira e eles a caminho de uma discoteca cheia de pessoas. Felizmente não aconteceu nada. Já ouvi de pessoas próximas muitas histórias destas. Lembram-se de ser tão comum crianças morrerem por acidente com armas em casa? Eu lembro-me, talvez por estar na idade dos disparates e fartarem-se de me avisar para que se visse uma arma não lhe tocasse. Lembro-me também que há uns anos atrás o Diário de Notícias publicou uma série de fotografias das chacinas e destruição de aldeias durante a guerra. A polémica foi enorme. Às imagens de cabeças africanas espetadas em paus respondiam que nada daquilo era verdade, que a nossa (des)colonização não tinha sido assim, manipulações, uma mentira pegada. Mas as fotos existem. São muitas e eu vi milhares.
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