De todos os traços, manias e feitios que herdei, há um que gosto particularmente – não obstante as fúrias lendárias na família, nunca há mal que nos toque realmente e não consigamos mais cedo ou mais tarde ridicularizar. Da mesma forma que nos enfurecemos e temos um sentido de justiça que por vezes chega a raiar a loucura na senda de o alcançar, não possuo memória de nenhum evento que no fim não tenha sido ultrapassado. Há qualquer coisa que corre no sangue desta família que é mais forte do que tudo – o humor. Nem sequer a morte escapou às ironias familiares. Um dos momentos em que recordo com prazer ver a família toda a rir até às lágrimas decorreu no funeral da patriarca. Ainda ontem, frente ao mar, relembrava um antepassado que deixou a firme intenção de ser enterrado junto à costa, para poder ver o mar todos os dias depois de morto.
a minha língua é a pátria portuguesa
coisas extraordinárias do gabinete
grandes crimes sem consequência
pequenas ficções sem consequência
LEITURAS
Agora e na hora da nossa morte - Susana Moreira Marques
Caixa para pensar – Manuel Carmo
Night train to Lisbon – Pascal Mercier
CIDADES