O meu jardim. Haveria tanto para dizer sobre o meu jardim, agora ainda pequeno, três dezenas de plantas a crescer, mais uma mão cheia de sementes a germinarem em vasos minúsculos no berçario da janela virada a sul. São a primeira coisa que vejo de manhã, se estão a crescer como deve de ser, se as folhas estão murchas ou viçosas. Fascina-me como as sementes se transformam em organismos verdes com personalidade. As flores que nascem e morrem num calendário próprio que ainda não domino. Intrigam-me as experiências, ler as instruções e executar, e até os maus resultados podem ser intrigantes. Entre outras coisas ando a plantar girassóis e só deus sabe o quanto não os suporto, mas garantiram-me características que ainda não assisti – são fortes, resistentes e adoram sol. Ouvem amiúde música clássica, ficam contentes com a 9ª de Mahler, é como o dono. Falamos muito, principalmente de política e economia. Em pouco tempo aprendi muito, e a primeira constatação, a mais evidente, é que sou uma pessoa de árvores – fortes, altas, de raízes que chegam ao centro da terra, e que, do meu jardim até plantar um pinhal, prevejo uma viagem curta.
a minha língua é a pátria portuguesa
coisas extraordinárias do gabinete
grandes crimes sem consequência
pequenas ficções sem consequência
LEITURAS
Agora e na hora da nossa morte - Susana Moreira Marques
Caixa para pensar – Manuel Carmo
Night train to Lisbon – Pascal Mercier
CIDADES