Quarta-feira, 10 de Fevereiro de 2010

 

– Ó senhor Barqueiro, deixe-me passar, tenho filhos pequeninos, não os posso sustentar...

– Passará, passará, mas algum deixará, se não for a mãe da frente é o filho lá de trás...

 

Lembram-se de andarmos todos a cantarolar isto? A infância era um lugar tão bonito. Hoje ficamos horrorizados com as letras que cantávamos alegremente e sem consciência nos recreios da nossa infância. Mãe desesperada, com filhos pequenos e sem sustento, implora a barqueiro mau como as cobras para passar o rio e o estapor responde que não há problema, há é um preço a pagar – a mãe ou um filho ficam para trás... Isto assim dito (cantado atenua um bocado o efeito) parece tenebroso, mas reparem bem. A canção ensina algo inestimável para a nossa, na altura, vida futura. Às vezes as coisas correm mal, muito mal, tudo tem um preço e há a forte probabilidade de se esbarrar com um anormal numa altura crucial da nossa vida – a passagem do rio. A questão é: o que fazer ao anormal? Na canção não havia solução. Mais. Alguém se lembra do início da cantilena?

 

Que linda falua, que lá vem lá vem, é uma falua, que vem de Belém...

 

Pois é. No início é sempre tudo maravilhoso. A falua é linda e vem na nossa direcção. Embora só a indicação da proveniência da falua fosse factor, por si só, de alerta máximo. Mas na altura não sabíamos os perigos que podiam vir de Belém. E cantámos, cantámos alegremente até colocarmos gravatas no pescoço e descobrirmos que a vida é uma grandessíssima falua com um animal lá dentro.



publicado por afonso ferreira às 02:07 | link do post | comentar

5 comentários:
De Vera a 10 de Fevereiro de 2010 às 09:32
ah ah ah
é caso para dizer que de Belém nem bom vento nem bom casamento ;-)


De Dakota a 10 de Fevereiro de 2010 às 15:09
Deliciazinha ... :)


De Manu a 10 de Fevereiro de 2010 às 23:53
Bem, se fizesssemos um remix da linda falua com o atirei o pau ao gato, tiravamos o gato de cena e punhamos o animal da linda falua, a levar com o pau. De belém, vou continuar a sonhar com os pasteis, mas tb há lá muitos animais com gravata ao pescoço a fazer com que tudo pareça uma linda falua e com que o gato pareça que não, neste caso mordeu.
Cá para mim, já brincavamos com a realidade, inocentemente :p


De AG a 12 de Fevereiro de 2010 às 11:02
Tem piada que ao ouvir a minha filha de 2 anos a cantarolar isso (e eu com ela) penso sempre na atrocidade de "mas um deles ficará, se não for a mãe à frente é o filho lá de trás"

Sempre que comento isto com os outros país e educadores olham para mim como se não compreendessem. E agora vem o senhor verificar o mesmo. Ele há coisas...

Ontem vi Noronha do Nascimento dizer por várias vezes a uma jornalista que eu considero inteligente o porquê das escutas serem nulas e ela continuava a perguntar-lhe porquê. ele até exemplificou e ela continuava a perguntar-lhe porquê.
Pensei, é uma pedra? Mas os jornalistas só ouvem o que querem ouvir? (e usam da hermenêutica para as notas de rodapé que aparecem enquanto dão notícias). Depois pensei que isto é uma onda em que andam todos tão excitados que não interessa o interesse público, o que interessa de veras é o interesse Do público.
não faço a minima ideia de quem é (também não me interessa) mas já me prendeu a retina.
Bem haja
AG


De afonso ferreira a 12 de Fevereiro de 2010 às 18:58
Quando uma pessoa fica bloqueada e só consegue repetir porquê, porquê é muito mal sinal. Mas uma pancada na cabeça costuma funcionar bem ou então mexer na antena como fazíamos às televisões antigas para melhorar a imagem


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