Acusaram-me de ser mitómano pela primeira vez. Toda a vida fui acusado e tive problemas exactamente com o contrário, detesto a duplicidade, a falha no discurso, a mentira proveitosa, a história mal contada, o carácter frouxo. E nem sempre sou meigo quando aponto o dedo, para dizer a verdade raramente sou, ao ponto de já ter perdido a razão só pela forma como reagi. Tive dezenas de problemas e situações que nasceram sempre da mesma premissa, uns acabaram bem, muitos acabaram terrivelmente mal com amizades perdidas e comigo a bater portas no trabalho. Sei que é talvez a minha principal característica e talvez a que mais me orgulhe e defina, mas também o meu calcanhar de Aquiles, é onde tentam acertar para me atingir o coração, é a única coisa que é capaz de me fazer sofrer. De tal forma esta premissa é constante que já inventei frases para minha lápide a gozar com o assunto. Quando me acusaram de mitómano confesso que tive de ler sobre o assunto, tinha só uma ideia vaga do significado da palavra ou o sentido em que podia ser proferida. E só quando acabo de pesquisar e ler sobre percebo finalmente que a condição (doença) psicológica assenta como uma luva a a quem me acusou e que no fundo é só mais uma situação igual a todas as outras.
a minha língua é a pátria portuguesa
coisas extraordinárias do gabinete
grandes crimes sem consequência
pequenas ficções sem consequência
LEITURAS
Agora e na hora da nossa morte - Susana Moreira Marques
Caixa para pensar – Manuel Carmo
Night train to Lisbon – Pascal Mercier
CIDADES