Há uns anos, descobri o António Zambujo e fiquei rendido. Trabalhei muitas horas ao som da sua voz, troquei algumas mensagens com ele sempre na qualidade de admirador confesso, coisa que raramente posso mencionar em relação a outros artistas. Nessa altura, alguém das minhas relações ofereceu-me um bilhete e numa noite amena rumamos em direcção ao São Luiz para um espectáculo memorável. Infelizmente tudo me levava a desconfiar que o meu acompanhante não era uma pessoa de boa índole, e, mais tarde, confirmei mesmo que a pulhice se estendeu até ao próprio convite em si. O resultado foi ter deixado de ouvir o Zambujo durante anos, uma associação inconsciente a algo que desprezava profundamente, uma assossiação de ideias injusta mas à qual não consegui fugir. Alguns anos depois, e com um processo a correr nos tribunais comprovando que o meu asco moral não era desprovido de razão, descubro-me a meio de uma tarde ensolarada no escritório a cantarolar uma das minhas canções preferidas, e percebo, finalmente, que com a aproximação à justiça dos tribunais também a justiça a Zambujo foi alcançada – caramba, que voz, como foi possível ter-me afastado disto tanto tempo.
a minha língua é a pátria portuguesa
coisas extraordinárias do gabinete
grandes crimes sem consequência
pequenas ficções sem consequência
LEITURAS
Agora e na hora da nossa morte - Susana Moreira Marques
Caixa para pensar – Manuel Carmo
Night train to Lisbon – Pascal Mercier
CIDADES