Jantei uma vez na casa de um extraordinário russo, na Rússia. A conversa fazia-se num inglês fragmentário, mas expressivo. O seu interminável repertório de histórias subdividia-se em diversas categorias; às melhores ele chamava “true fake”, ou seja “mentiras verdadeiras”, que não eram sequer mentiras mas apenas tão boas que mereceriam sê-lo. Depois vinham as “fake fake”, que eram mentiras mesmo mentiras mas suficiente boas para merecerem ser verdade. Quando as histórias eram tristemente verdadeiras, o meu anfitrião encolhia os ombros, fazia uma cara quase de quem pede desculpas, dizia: “this, my friend, is true-true”. Verdade verdadeira, meu amigo; o mais baixo da escala. (...)
a minha língua é a pátria portuguesa
coisas extraordinárias do gabinete
grandes crimes sem consequência
pequenas ficções sem consequência
LEITURAS
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Caixa para pensar – Manuel Carmo
Night train to Lisbon – Pascal Mercier
CIDADES