Acordo de madrugada e atiro-me ferozmente ao computador, despachar assuntos, trabalhar a competir com o relógio. Surgem avisos, telefonemas, mensagens no telemóvel, emails – a besta voltou, dizem-me. Enviam-me a gozar uma foto que apareceu nas redes, o sorriso falso que conheço bem, a pose estudada, só um papel bem desempenhado que desvanece imediatamente ao disparo da máquina para dar lugar à pessoa mal formada, à raiva, às palavras sem nível. Digo-lhes que não se preocupem, só me dá vontade de rir, sei bem a verdade e a cidade é grande. Continuo a trabalhar, há um pássaro que pousa na minha janela e as copas das árvores oscilam ao sabor do vento, não há realidades encenadas que não acabem quando o pano desce.
a minha língua é a pátria portuguesa
coisas extraordinárias do gabinete
grandes crimes sem consequência
pequenas ficções sem consequência
LEITURAS
Agora e na hora da nossa morte - Susana Moreira Marques
Caixa para pensar – Manuel Carmo
Night train to Lisbon – Pascal Mercier
CIDADES