Cheguei tarde à redacção e de ressaca. Ressaca da puta da vida. Há três anos que não consigo dormir. Vi, ao longe, o editor ao pé da minha secretária e fiz uma curva apertada para a máquina do café para não ter de falar ao gajo. Tarefas do dia: acompanhar a ministra da educação à inauguração de uma escola primária projecto-piloto. Um entusiasmo percorre-me as veias e acerta-me em cheio no cérebro na área que está moribunda devido às insónias. Bebo uma caneca de café a escaldar que embacia os óculos escuros e espreito a ver se o gajo já desandou. Terreno livre. Avanço de gatas para a secretária. Aceno maquinalmente com a cabeça e um grunhido à medida que passo pelas outras secretárias. Isto hoje está uma animação de palhaço pobre. Ligo o computador e percorro os emails à procura de excitações avulsas.
a minha língua é a pátria portuguesa
coisas extraordinárias do gabinete
grandes crimes sem consequência
pequenas ficções sem consequência
LEITURAS
Agora e na hora da nossa morte - Susana Moreira Marques
Caixa para pensar – Manuel Carmo
Night train to Lisbon – Pascal Mercier
CIDADES