Passou pela janela e desviou o olhar para a cidade, acto irreflectido, virou o pescoço para a esquerda, podia ter sido para o lado contrário. Estancou o passo e aproximou-se da janela devagar. Viu a grua imponente, como uma aparição, um monstro de metal a violar o skyline da cidade. As copas das árvores não lhe permitiam localizar o local exacto onde tinha sido erguida durante a noite. Pensou que era o sinal, já pouco devia faltar. Passou o resto da noite a empacotar coisas, a rasgar papéis, a queimar objectos. Tirou as armas escondidas debaixo das tábuas de madeira do soalho. Arrastou com esforço os bidões de gasolina da arrecadação. No dia seguinte a casa era só uma memória.
a minha língua é a pátria portuguesa
coisas extraordinárias do gabinete
grandes crimes sem consequência
pequenas ficções sem consequência
LEITURAS
Agora e na hora da nossa morte - Susana Moreira Marques
Caixa para pensar – Manuel Carmo
Night train to Lisbon – Pascal Mercier
CIDADES