Percorro as ruas em passo de corrida. Atrasado, atravesso a baixa ao anoitecer, pessoas, semáforos, verde-vermelho, carros e vida frenética. Viro no elevador de Santa Justa, ao chegar ao edifício identifico-me, deixo uma fila para trás e subo sozinho no elevador. No topo do edifício há uma festa, mais pessoas do que imaginava, um ar de expectativa enche-me os pulmões. Penso que afinal devia ter convidado alguém mas é tarde de demais. Dirijo-me ao bar e o empregado sem hesitar serve-me uma bebida sem perguntar nada. Devo estar com cara de quem precisa de algo forte. A bebida escorrega e incendeia-me as entranhas. Sabe bem, estava a precisar disto. Não tenho tempo para pensar na solidão, as pessoas sucedem-se, conversas entrecruzadas, reencontros. Passamos ao auditório, sento-me e deixo de pensar no caos do mundo. As cantoras entram em palco, o concerto começa, e eu penso, por um instante, que afinal é tudo tão simples. Se pudesse ficava aqui para sempre. Nos camarins sinto que percebo tudo, estou aqui e não poderia estar em mais lado nenhum.
a minha língua é a pátria portuguesa
coisas extraordinárias do gabinete
grandes crimes sem consequência
pequenas ficções sem consequência
LEITURAS
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Caixa para pensar – Manuel Carmo
Night train to Lisbon – Pascal Mercier
CIDADES