Precisei de três décadas e mais uns pauzinhos para compreender o motivo de comemorarmos os aniversários. Nunca percebi as pessoas que não gostam de celebrar a passagem de mais um ano nas suas vidas mas também não tinha uma explicação para esse desagrado. Nos últimos dias, submerso em vários jantares e festas de anos de familiares e amigos, incluindo o meu, finalmente percebi. O que interessa não é apagar as velas, não é a cantilena que confesso não suportar, o que é vital é termos a oportunidade de um dia por ano fazermos o balanço da nossa vida e brindarmos ao facto de estarmos vivos. Parece uma ideia simples mas é mais complexa do que parece. Nos últimos três anos morreram pessoas importantes na minha vida e uma que era costume estar presente na minha festa já não esteve ao meu lado agora. De ano para ano acumulam-se as cadeiras vazias e a lei mais natural do mundo e que prova que estamos vivos é que voltamos a ocupar os lugares com novas pessoas, se tivermos sorte tão importantes como as que faltam. Quem escolhemos para comemorar connosco é o reflexo da nossa vida actual. Quem riscamos da lista também diz muito de nós e se à partida poderá significar amizades que se extinguiram ou pessoas que simplesmente já não são importantes, no fundo significa as nossas expectativas futuras. Aquilo que já não faz parte da nossa vida também nos define. Diz-me como e com quem passas a noite do teu aniversário e dir-te-ei quem és. Como declarava ontem uma pessoa sentada no jantar de aniversário onde me encontrava até para o ano se cá estiver.
a minha língua é a pátria portuguesa
coisas extraordinárias do gabinete
grandes crimes sem consequência
pequenas ficções sem consequência
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