Sábado, 3 de Abril de 2010

 

"Cruzo-me, ao longo da minha vida, com milhares de corpos; desses milhares posso desejar umas centenas; mas dessas centenas, não amo senão um. O outro por quem estou apaixonado mostra-me a especialidade do meu desejo."

Fragmentos de um discurso amoroso, Roland Barthes

 

Do livro escorreu areia fina e o cheiro a maresia do verão em que o li. Não recordo se estava apaixonado. Volto a ele numa tentativa de deslindar alguns discursos amorosos que vou reconhecendo à minha volta. Na fadiga que observo em alguns, relações que se sucedem sem final feliz; noutros a procura insensata de um objecto amoroso que tarda em comparecer; a doença do amor fulminante, a loucura, a desilusão. A especialidade dos desejos dos outros reflecte a pouca dos meus. Troco a particularidade pelo improviso. Prefiro a morte e ressurreição ao pacto com o diabo da demanda cega. Prefiro mergulhar do que lamentar na minha morte não ter amado.



publicado por afonso ferreira às 02:00 | link do post | comentar

5 comentários:
De Carla Ferreira a 3 de Abril de 2010 às 11:34
E eu acho que preferes muito bem.


De clara a 3 de Abril de 2010 às 12:33
eu cheguei à conclusão que olhamos demais para os desamores dos outros e nos deixamos atormentar por isso, mesmo quando somos felizes no amor. o que é triste.


De afonso ferreira a 3 de Abril de 2010 às 22:32
Comentário pertinente


De Manu a 3 de Abril de 2010 às 15:58
Mhm :))


De AG a 5 de Abril de 2010 às 15:29
Quando olhamos muito em redor, tentando perceber o amor ou o desamor dos outros, só pode significar que nós próprios procuramos a resposta ou solução para o nosso próprio problema/amor/desamor. Por vezes é através da assimilação dos relacionamentos e vivências dos outros que conseguimos fazer a análise de nós próprios. Talvez porque seja uma análise difícil, não sei.
O livro que por vezes volto a ler (razão porque estou a comentar o seu posto) à busca de uma aspiração de felicidade que senti quando quando o li (tinha uns 16 anos, é a Morte Feliz de Camus, não lhe sei explicar porquê. Passaram 21 anos...
Tudo o que resultar (A propósito do filme whatever works) para sermos felizes/livres é o meu lema.
Por isso força, mergulhe no amor.
Resto de bom dia.
AG


Comentar post

mais sobre mim
Dezembro 2012
Dom
Seg
Ter
Qua
Qui
Sex
Sab

1

2
3
4
5
6
7
8

9
13
14
15

16
17
18
19
20
21
22

23
24
25
26
27
28
29

30
31


posts recentes

the end

Sleepless people

provérbio transmontano

cry me a river

Falta de rigor

obrigado

prémios literários

meia-noite

battle

status

Día domingo

imaginação

virtudes públicas, vícios...

fios

Estudos de um processo

arquivos

Dezembro 2012

Novembro 2012

Outubro 2012

Setembro 2012

Agosto 2012

Julho 2012

Junho 2012

Maio 2012

Abril 2012

Março 2012

Fevereiro 2012

Janeiro 2012

Dezembro 2011

Novembro 2011

Outubro 2011

Setembro 2011

Agosto 2011

Julho 2011

Junho 2011

Maio 2011

Abril 2011

Março 2011

Fevereiro 2011

Janeiro 2011

Dezembro 2010

Novembro 2010

Outubro 2010

Setembro 2010

Agosto 2010

Julho 2010

Junho 2010

Maio 2010

Abril 2010

Março 2010

Fevereiro 2010

Janeiro 2010

Dezembro 2009

tags

a minha língua é a pátria portuguesa

cartas

casamento gay

coisas extraordinárias do gabinete

conversas de caserna

correspondência epistolar

corrupção

dias felizes

domingo

domingos

estudos

ghost writer

gira-discos

grandes crimes sem consequência

literatura

mercados

mundo virtual

outras cidades

paixonite

pequenas ficções sem consequência

perdido no arquivo

playlist

relvasgate

sonhos

suicídio público

taxistas

telenovela

um homem na megalópole

vendeta

viagens

todas as tags

links
subscrever feeds