Quando um homem resume a sua vida a trabalhar de manhã à noite sem descanso e as suas relações de amizade mais consistentes são virtuais, o nosso novo melhor amigo poderá ser o dono do supermercado na baixa aberto até à meia-noite. Tem todas as qualidades que se deseja numa amizade: é fiável, paga-se o que se quer levar, não fala português permitindo-nos uma comunicação isenta de ruído supérfluo - o que parecendo pouco é na realidade precioso atendendo às horas em que o visito - e acima de tudo está sempre disponível para nos aturar (por vezes está aberto até à 1 da manhã). Hoje, para além dos lacticínios e verduras que me mantêm no nível mínimo de sobrevivência, tinha à minha espera o último grito tecnológico: uma raquete electrificada para matar os insectos que teimam em namorar a fruta. Pedi-lhe para experimentar e renasci às primeiras raquetadas aos mosquitos na secção das pêras. Por gestos combinei alugar-lhe a raquete todas as noites por um preço módico. Hoje consegui encaixar o ginásio na minha agenda sobrecarregada e puxar o lustro à minha pessoa nos chats do facebook, afinal o ténis sempre foi um desporto elitista.
a minha língua é a pátria portuguesa
coisas extraordinárias do gabinete
grandes crimes sem consequência
pequenas ficções sem consequência
LEITURAS
Agora e na hora da nossa morte - Susana Moreira Marques
Caixa para pensar – Manuel Carmo
Night train to Lisbon – Pascal Mercier
CIDADES